Curtas do Metro - O Significado


[Pensei muito se deveria, ou não, iniciar uma secção sobre as minhas viagens no Metro. Há mais de um mês que faço o percurso Santa Apolónia - 24 de Julho e volta em regime misto. Metade autocarro, metade Metro. Torna-se mais rápido, mais confortável e as mudanças de transporte obrigam-me a fazer exercício físico. Ora, acontece que, no Metro, quase não há histórias e a razão é simples: os percursos são muito rápidos, o tempo em trânsito é muito fugaz para que algo de significativo aconteça. Hoje, contudo, aconteceu uma breve e curta história que merece ser contada e é por isso que inicio esta secção. Chama-se "Curtas" porque as histórias serão forçosamente breves e chama-se "do Metro" por razões óbvias. Se nunca mais acontecer outra, paciência, ficamo-nos por esta. De resto, Mails para a minha Irmã só tem a ganhar com a diversidade de secções e motivos de publicação. Boas leituras e... vamos lá à primeira Curta do Metro.]

O Significado.
Entrei. Havia muita gente, mas não estava "à pinha". Encostei as costas ao varão e virei-me de frente para o sentido em que o Metro ia avançar. Assim, o varão amparava-me as costas no momento do arranque. No último instante, já as portas estavam a apitar, entrou de salto uma mulher nos seus quarenta, não muito bonita nos meus critérios de beleza, mas bem arranjada. Calças de ganga justas, uma blusa encarnada e, por cima, um colete em pele de coelho ou imitação da dita. Cabelo arranjado. Quando entrou, abriu um desses jornais gratuitos, pôs-se a ler e não se agarrou a nenhum varão vertical, nem horizontal (por cima dos bancos), nem a uma pegadeira do tecto. Ficou de pé de frente para mim. A ler o jornal. Eu estranhei que não se agarrasse, mas pressupus que tivesse bom poder de "fixação". Pressupus mal.

Quando o Metro arrancou, ela foi projectada pelo impulso para cima de mim, agarrou-se ao varão onde eu tinha as costas dando-me um forte e apertado abraço que me colou as costelas ao varão e me tirou, momentaneamente, o ar. Até aqui, isto é esquisito, mas acontece todos os dias no Metro. O que ela disse a seguir é que me intrigou. De tal forma que tive de responder-lhe.

Enquanto recuava e me soltava do seu apertado abraço, perguntou:
- Acha que este encontrão significa alguma coisa?
- Acho. Significa que tem de se agarrar!

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