Curtas do Metro - O Infinito

O Infinito.
Estação dos Restauradores.
Estou a chegar. Vou caminhando devagar ao longo da plataforma. Sigo pelo centro. Nem chegado à linha, nem chegado à parede. Do meu lado direito, do lado da parede, está um casal jovem. Ambos com roupas, atitude e aspecto que indiciam os seus dezassete anos, não mais. Há cabelos desalinhados e piercings de sobrolho e estão carinhosamente de mãos dadas, virados para a linha. Do meu lado esquerdo, junto à linha, vem caminhando na minha direcção uma mulher jovem, muito sensual, muito atraente, muito... tudo, nos seus vinte e picos anos, blusa justa, casaco curto, mini-saia, meias coladas às pernas e sapatos de salto muito alto.

Quase que estivemos todos em paralelo porque quando passei junto do casal, a moça atraente tinha acabado de se cruzar comigo. E foi aí que a coisa se deu.

A rapariga do piercing puxou a mão que tinha solta atrás, tomou balanço, e enfiou um valente estalo de palma aberta na cara do namorado. Ele ficou meio assarapantado com a surpresa, piscou os olhos e mexeu a face como que a recolocar as carnes esbofeteadas no sítio e quando se sentiu recomposto, disse:
- O que é que foi? Estava só a olhar para o infinito!
- Eu dou-te o infinito!

Estas duas falas davam uma tese, mas eu não vou escrevê-la porque a secção se chama "Curtas do Metro", contudo, sempre acrescento que, mesmo tendo em conta a violência do chapadão, eu, que também ia a olhar para o infinito, acho que aquele infinito vale a finitude de um estalo!

NetWorkedBlogs