Curtas do Metro - Saciado

Saciado
A moça tinha aí uns dezoito ou dezanove anos. Era alta e esguia, o cabelo pintado de loiro, uma camisola de lã preta, botas da tropa enormes e umas meias pretas que lhe subiam pelas pernas acima até à mini-saia. A mini-saia tinha três características. Era verde exército. Tinha bolsos a toda a volta da cintura a imitar os que se vêem nos fatos dos militares. Era curta. Exígua. Tão curta que mais parecia um cinto. Eu fiquei de pé junto às portas. Ela foi-se sentar. Sentou-se de costas para mim, ao pé da janela, logo, eu não conseguia vê-la, mas não era difícil imaginar que, com uma saia tão curta, sentada, o pano não era suficiente para tapar o que quer que fosse. Por isso, fiz uma dupla aposta comigo mesmo. Apostei que, na próxima estação, um homem ia sentar-se de frente para ela e não ia resistir a contemplar o que a saia curta não tapava. Meu dito, meu feito. Entrou um homem com fato de fazenda azul-escuro e gravata. Tinha um casaco comprido e impermeável por cima do fato. A primeira parte da aposta estava ganha. Agora, só faltava que ele olhasse. Eu sabia que ele ia fazê-lo, só não sabia como ia fazê-lo. Sentou-se. Olhou de relance. Nem parou a vista. Volvidos uns segundos, voltou a olhar de relance. Olhou uma terceira vez, mas, desta vez, demorou-se um pouco mais e deve ter gostado porque olhou uma quarta vez. Demorou-se mais. Ficou com o olhar fixo e, no meu conceito de perceber as coisas, estava a exagerar um bocadinho. Cada vez demorava menos a voltar a olhar e cada vez se demorava mais no olhar. Ainda se saciou mais duas ou três longas vezes.

Saímos os três. Já nem olhei para a moça. Ele tinha-a visto toda! Achei piada porque mudei de Metro e fiquei à espera, sentado no banco de pedra ao longo da plataforma. O Metro do outro lado da linha chegou primeiro e vi a moça entrar através dos vidros da carruagem. Entrou e sentou-se. E adivinhem quem se sentou de frente para ela? Não queriam mais nada, não?! Foi uma senhora qualquer que ainda não tinha entrado nesta história! Mas lá que o homem do fato e do impermeável seguiu saciado... lá isso seguiu!

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