Assim Não Dá
O Cais do Sodré é uma estação terminal. Querendo isto dizer que qualquer composição que ali chegue não vai mais para a frente porque não há mais para onde ir, logo, a malta tem de obrigatoriamente sair. A história que a seguir se conta só faz sentido à luz desse pressuposto!
8:50 de um dia de trabalho. o Metro chega ao Cais do Sodré. À medida que abranda a marcha, as pessoas dirigem-se para as portas de saída. Quando pára, a maioria dos passageiros está aglomerada junto às portas. Ao contrário do que costuma acontecer, do que é suposto acontecer e do que tem mesmo de acontecer, as portas não abrem. As pessoas fazem um compasso de espera. Olham-se com aquele ar condescendente do género "Neste país funciona tudo mal porque é que isto havia de funcionar bem". Cria-se uma certa expectativa. E estamos neste silêncio, com as portas fechadas, quando uma voz feminina, doce e suave, anuncia gentilemente no sistema de som da composição:
------- Cais do Sodré. Estação terminal. Pede-se aos senhores passageiros o favor de saírem do comboio.
Um senhor de cabelo branco e pouca paciência respondeu à sensual gravação como se ela pudesse ouvir:
------- Já saía, já...
A menina da gravação respondeu-lhe como se ele não tivesse ouvido bem:
------- Cais do Sodré. Estação terminal. Pede-se aos senhores passageiros o favor de saírem do comboio.
O homem exasperou. Então estavam a mandá-lo sair e não lhe abriam a porta e voltou a responder à gravação gentil:
-------Se me abrires a porta...
Não há mal que sempre dure, nem bem que não se acabe. As portas acabaram por abrir-se e, já íamos na plataforma a caminho das escadas, quando voltámos a ouvir:
------- Cais do Sodré. Estação terminal. Pede-se aos senhores passageiros o favor de saírem do comboio.
------- Se te calasses...