Curtas do Metro - Não Mexas Nisso, Pá!


Não Mexas Nisso, Pá!
Estação de Baixa/Chiado, sentido Santa Apolónia.
Mais uma vez saí tarde do trabalho. São mais ou menos 20:30h. Venho a chegar à plataforma. Acabei agora mesmo de descer as escadas que lhe dão acesso. Do outro lado da linha, no sentido Amadora-Este, vinda do cimo das escadas, oiço uma voz feminina que grita de forma bem audível e em tom zangado, muito zangado:
- Não mexas nisso, pá!

Olho para trás no sentido do som e vejo um corpo de homem bem constituído, a rondar os quarenta anos, a voar e a rebolar escada abaixo até se estatelar no patamar intermédio com um estrondo surdo. Com ele rebolou uma mochila e um saco de papel que acabaram junto ao corpo. O homem ficou caído, imóvel. Uma rapariga de mini-saia azul-escura e uma blusa às riscas desce a escada. Ao lado dela vem um rapaz musculado com calças de ganga e uma t-shirt cinzenta. Apressa o passo. Quando passa junto do homem estatelado, o rapaz coloca o dedo em riste, baixa-se e grita-lhe:
- Nunca mais mexes no que não é teu!

Os dois acabaram de descer as escadas tranquilamente. Algumas pessoas rodearam o homem caído. Uma levantou-lhe um braço, mas ele não reagiu. O meu Metro chegou. Entrei, espreitei pelo vidro e vi o homem levantar-se amparado à parede. Parecia apontar no sentido do casal. O meu Metro arrancou. Troquei umas palavras de circunstância com uma senhora, mas nenhum de nós sabia mais do que isto. Gritos, um corpo caindo escada abaixo, mais gritos.

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