Curtas do Metro - Um Certo Odor


Um Certo Odor

Eu tenho um olfacto apurado. E sou muito sensível aos odores. Não esquisito. Só sensível.

Todos os dias faço o trajecto de Metro entre o Cais do Sodré e Baixa/Chiado ao final da tarde ou ao princípio da noite. Nunca tinha pensado em Lisboa como uma cidade balnear, mas há muito quem pense. São muitos, muitíssimos, os passageiros que entram àquela hora no Metro do Cais do Sodré e que, claramente, vêm da praia. Vai um homem encarcerado no fato e enforcado na gravata e eles passam de chinelos, areia nos pés e nas pernas, calções, toalhas ao ombro, t-shirts... algumas raparigas ainda com o top do biquini e uma saia, sacos de praia, chapéus-de-sol, pranchas, peles encarnadas e peladas do sol e conversas de...mar! É de fazer inveja. É curioso observar o Metro atravessado pelo folclore da praia à mistura com saltos altos, fatos e gravatas, pastas de trabalho penduradas das mãos.

Ainda não tinha decidido escrever sobre isto porque, sendo interessante, não me marcara. Hoje, contudo, senti um odor familiar, adocicado e inconfundível. Pairava, suave, na carruagem onde eu ia e, de repente, foi como se a praia fosse ali comigo, a envolver-me o espírito e o corpo. Quis perceber o que me transportava para a tranquilidade nostálgica das férias, que mar era aquele a entrar-me pelas narinas e a provocar-me os sentidos.

Concentrei-me e rapidamente o identifiquei. Viajávamos envoltos pelo odor espesso e suave de... protector solar!

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