Qual Memória?

Hoje, o senhor Primeiro Ministro, Pedro Passos Coelho, fez uma afirmação que considerei interessante sobre a atual situação do país e o orçamento para 2012. Segundo O Público, disse que “Será seguramente o mais difícil de fechar e o mais difícil de executar de que temos memória em Portugal”

Que o seria, eu não tinha muitas dúvidas. Há muito tempo que Portugal vive acima das suas capacidades. Há muito tempo que se desinvestiu no bem comum e se permitiu a concentração e o controlo financeiro em meia dúzia de grupos. Há muito tempo que a política perdeu coragem e inteligência para perceber como atacar o problema.

Consigo reconhecer coragem a este Primeiro Ministro. Não sei se lhe reconheço a inteligência. E começo por aqui... a que memória se referia ele? À memória do passado ou à memória do futuro? Se se referia à primeira e tem uma visão que, para além de financeira, seja também económica no sentido da reabilitação desta através do reinvestimento público, da recuperação do poder de compra, da reoxigenação financeira das famílias, então que seja o orçamento mais difícil de sempre. Pago esse preço se for esse o preço da regeneração económica do país. Acontece que ouço falar muito pouco de economia. Todo o discurso se esvai em finança e em poupança e em cercear e em estrangular e em cobrar e em taxar. E, curiosamente, com reincidência nos atingidos. Os mesmos contribuintes de sempre. Ora, acontece que se o senhor Primeiro Ministro, com maior ou menor consciência, se referia à memória do futuro, àquela que os nossos filhos e netos hão de ter deste problema, então estamos condenados porque andaremos a poupar e a estrangular e a cortar indefinidamente na despesa sem gerar receita e morreremos da cura. Esfaimados da dieta.

É evidente que é preciso um orçamento exigente, mas não pode ser um orçamento que se limite a corrigir o passado. Ele tem de projetar o futuro. Normalmente, em Portugal, os orçamentos não são projetivos. São contas de merceeiro com duas colunas, a do deve e a do haver. Sem um qualquer plano estratégico de reestruturação do tecido comercial e industrial da nação. Uma mera lista de despesas perante um bolo de receitas. Acontece, para nossa desgraça, que se descobriu recentemente que o bolo estava podre, era falso.

É preciso que o Governo de Portugal seja mais do que corajoso. É fundamental que seja inteligente e que saiba prever que onde não há, não se pode poupar. E, para haver, é necessário investir, gerar poder de compra, apostar no trabalho. Por enquanto ainda só vi a coragem dos cortes e das reduções. Fico à espera da inteligência estratégica, mas atenção, não tenho muito tempo para esperar...

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