O Clã do Comboio - Um Ano a Contar Histórias do Clã do Comboio


Um Ano a Contar Histórias do Clã do Comboio

São 19:10h. Hoje é dia 2 de novembro de 2011. De manhã viajei no interregional das 7:18 e agora regresso no das 18:18. Até aqui, nada a assinalar. Contudo, embora não me tenha manifestado junto dos companheiros de viagem, o dia é muito especial para mim. Faz exatamente UM ANO que comecei as minhas viagens regulares de comboio.

Um ano de observação, de histórias, de personagens intrigantes e fantásticas. Um ano de amizades a crescer, um ano de viagens muito bem passadas, um ano. Até agora, redigi 92 histórias. É um acervo considerável. Tudo começou com histórias avulsas, de personagens dispersas e anónimas e foi evoluindo para um grupo de amigos que têm em comum andar todos os dias no mesmo comboio. Já fizemos o primeiro almoço do Clã do Comboio, esta semana será o primeiro jantar, na feira de gastronomia de Santarém, e já partilhámos aventuras diversas, centenas de histórias em muitas horas de conversa e boa disposição. Os seres humanos, quando querem, conseguem o milagre da partilha!

Quero agradecer aos companheiros de viagem por este último ano. Ainda me lembro como tudo parecia um sacrifício e como tudo se converteu em momentos interessantes e quase indispensáveis nas nossas vidas. Às vezes perguntam-me se não é um sacrifício desumano fazer tantas horas de transportes todos os dias e eu respondo com honestidade que pode ser cansativo, mas não é um sacrifício e a razão é simples. A amizade nunca é um sacrifício!

No último ano fiz cerca de 240 viagens de comboio, ou seja, quase 400 horas numa carruagem, gastei cerca de 2000€ em títulos de transporte, fui afetado por 4 ou 5 greves, conheci cerca de trinta pessoas que viajam comigo regularmente, Picas incluídos, e quase uma centena de personagens anónimas foram motivo para as minhas histórias. 92 histórias. Mais do que um acervo de escrita, o Clã tornou-se num inestimável acervo de vida e solidariedade. E mais, desenvolvi um enorme respeito por todos os trabalhadores que usam o comboio para se deslocarem para o trabalho.Um respeito feito, também, de comunhão e cumplicidade.

Para além dos anónimos, relataram-se aqui as aventuras ferroviárias do Escritor, do Aluno do Escritor, da Mulher Vampiro, dos Três Amigos que Querem Salvar o Mundo, a saber, o JJ, o RB e o VM, da Stôra, do Cunhado da Stôra, do Ceguinho, da Senhora da Provecta Idade, da Rapariga do Riso Fácil, da sua Prima e seu Mano, da PL, do Rapaz do Fato Cinzento, da Rapariga com Brinco de Pérola, da Senhora da Revista de Culinária, da Mamã das Duas Crianças, do Homem da Mala Térmica, do Músico, do Américo, da Rapariga da Voz Doce, do SuperPicas, do Picas Malandro, do Picas das Teorias e dessa fugaz mas inesquecível Rapariga das Palavras Claras... E ainda, dessas duas promessas de futuro, o Iago e o pequeno Iago. Uma plêiade de companheiros, de personagens a preencherem os dias, a ajudarem os minutos a passar, a colecionarem peripécias, frases, olhares, tudo o que faz da vida humana única e irrepetível.

Sempre fui um homem positivo, otimista e com capacidade de adaptação, mesmo às circunstâncias mais difíceis, mas a este Clã não foi difícil adaptar-me. Bastou ser igual a mim próprio, estar com eles, conversar, partilhar e é por isso que estou grato à vida por ter colocado no meu caminho as histórias e as fantásticas personagens que as compõem.

Um ano de Clã do Comboio.
Um ano de partilha voluntária.
Um ano de camaradagem genuína.
Um ano... e outro ano se inicia.

Atenção, senhores passageiros, vai dar entrada na linha número 5 o comboio interregional proveniente de Tomar com destino a Lisboa, Santa Apolónia...

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