Não há gente,
Não há raça,
Capaz de reter entre as mãos
O tempo que passa.
Não há prisão,
Não há grilhões,
Não há tortura,
Capaz de amordaçar
A força de uma Cultura.
Enfunaram as velas
Na ambição da partida
E traçaram com elas
A rota cometida.
Iam negros,
Do Sol queimados,
Desenhando na amurada
Os temores superados.
E investiram.
E conquistaram.
E desenharam nos mapas
Os mares navegados.
E foram conquistados, também,
Por armas estranhas e diversas.
São coisas que acontecem a quem
Anda unindo as terras dispersas.
E sangraram.
E ganharam.
E perderam, e viveram... e morreram!
Já ricos e enfeitiçados,
Gordos, já, e ensanguentados,
Entregaram-se às terras e às gentes
E, de conquistadores,
Se fizeram conquistados permanentes.
Vencidos os dias, os bons e os maus,
Atracaram o cordame das naus
E desembarcaram em rituais de alegria e festa
Anunciando pelas sete partidas
Que não havia gente como esta.
Numa praça,
Em meio de um festim,
Entre os odores e a alegria que atordoa
Sobe a um palanquim
Um marinheiro de Lisboa,
E grita:
Já percebi!
Já vi o tesoiro!
Já sei qual é a coisa boa...
É a gente de Goa!
É a gente de Goa!
jpv
----------------------------------------------Poema lido na cerimónia de lançamento do livro "Índia" de Amanda Sousa, em 5 de novembro de 2011, no auditório EquusPolis, na Golegã.