Olá Fofinho,
Desde que me fizeste A proposta há dois dias atrás que não consigo pensar noutra coisa e nem sequer se trata de nenhuma ânsia de racionalização. Somente não quero dar esse passo em falso de novo. Por um lado, penso que não nos falta maturidade. Eu tenho 44, tu tens 42, ou seja, já somos crescidinhos. Por outro lado, já os dois vivemos uma numa situação conjugal falhada que em ambos os casos deixou marcas, creio que até mais profundas em ti. Eu tenho um filho ao meu cuidado e tu tens uma menina ao teu. Embora já sejam crescidos, vivem aquele momento complicado de passarem do 2º ciclo para o unificado o que quer dizer que quer tu, quer eu, poderíamos precisar de uma ajuda extra nesta fase, um apoio mútuo. Por fim, e não menos importante, eu amo-te muito e confio muito no teu amor por amor por mim.
Parecendo tudo tão óbvio e tão simples, perguntei-me séria e profundamente porque não te disse logo que sim anteontem. Ainda para mais naquele contexto romântico de jantar à luz das velas que o menino preparou. Por duas razões. Primeiro, porque a meio da conversa, o menino começou a deixar as suas mãos viajarem por onde não deveriam e a conversa teve de ser interrompida por motivos de força maior - és um malandreco, depois porque, meu amor, com verdade te digo, tenho reservas e não queria tomar esta decisão com reservas.
A tua proposta para vivermos juntos, sob o mesmo tecto, e formarmos um casal apaixonado em partilha plena da vida é a tentação é a tentação do céu e, além do mais, seria a consequência natural do nosso namoro, já tão assumido, já tão longo. Meu Deus, parece que foi ontem que te conheci e já faz dois anos que namoramos.
Mas, meu amor, sem querer julgar-te mal, e por isso resolvi escrever-te, para usar o meio que nos aproximou e para medir bem as palavras, eu penso que a tua proposta é demasiado elaborada, demasiado acabada. José Pedro, eu preciso de um homem que me dê segurança, mas também quero ter um papel activo nas nossas escolhas. Meu amor, tu decidiste que venderíamos os nossos apartamentos para comprar um em comum, decidiste onde seria, como seria. Até os electrodomésticos e as cores das paredes tu definiste. Tu decidiste que carro compraríamos, qual dos nossos dávamos à troca. Tu decidiste em que escola colocar os miúdos e quem ia buscá-los e a que dias e, pior do que tudo, tu decidiste como dividiríamos os bens se nos separássemos! Meu amor, se eu for viver contigo, não vou querer estar a pensar que me vou separar e muito menos vou querer estar a pensar nos bens. Por outro lado, meu amor, temos de deixar algum espaço à espontaneidade, ao improviso, à vida que acontece de uma determinada maneira porque foi esse o seu curso, sem pré-determinações.
Meu amor, como tantas vezes te disse, eu quero essas coisas todas contigo, mas quero que aconteçam e as façamos acontecer no quotidiano. Não quero viver a vida como quem descarrega itens numa lista de supermercado. Por favor, não me interpretes mal. Esta semana estaremos juntos e conversaremos sobre isto. Entende este mail só como uma contribuição para a nossa reflexão. Nada mais.
Beijo Imenso.
Tânia.