Meu Amor,
Tenho-me
contrariado vezes sem conta, sempre em nome de pessoas e causas nobres. Nunca
essas pessoas e causas fui eu ou foram minhas.
Há um ano, quando
me divorciei, disse à Patrícia, Acusa-me
do que quiseres, devo tê-lo feito. A frase não é minha, é de Brör, marido
de Karen Blixen em "África Minha". Esse despojamento e essa lisura
resultaram num divórcio amigável em cada um tem as suas razões, as suas culpas
e as suas recriminações, mas não as exercem em nome de um bem maior: a
tranquilidade. Ao longo deste tempo tens-me apoiado incondicionalmente e, mesmo
sem falarmos ou escrevermos com regularidade, tens sido um farol, uma
orientação, e tens-me entregado todo o teu amor e toda a tua dedicação. Nunca
ninguém foi tão apaixonado comigo. Nunca ninguém se me entregou tão
completamente como o fizeste comigo. Sem qualquer interesse que não o de
amar-me.
Quando me
divorciei, não foi por ti, não foi por mais ninguém senão por mim mesmo. Por
isso reivindiquei para mim um tempo de estar só, um tempo de reflexão, um tempo
de pensar-me e pensar as minhas opções.
Não há opções
porque há um só sentido para mim e para o tempo que me falta viver e esse
sentido és tu. Tu és a força silenciosa que nunca me abandonou, o amor fundo
que nunca deixou de orientar-me mesmo quando o não consciencializei. Amo-te,
Verónica, amo-te como à vida, amo-te mais do que a mim próprio porque não há Eu
verdadeiro e com sentido sem que Tu estejas nele.
Tu és o meu
sentido. Tu és o meu caminho. Tu és a minha opção e a minha vida. Para que
todas as minhas errâncias e todos os meus erros possam um dia fazer sentido, é
preciso que sejam entendidos porque buscava nas outras mulheres aquilo que só
em ti residia: a essência do amor, o sentido da vida!
Sou teu, Verónica,
como nunca o meu ser pertenceu a outra pessoa e esperarei por ti o tempo que
for necessário, nem que seja o tempo da minha vida. Afinal, o que representa
esse tempo perante a eternidade de estarmos unidos?
Contaste-me que o
teu relacionamento com o Eduardo vivia dias de hesitação. Incertezas. Alguns
problemas que precisavam ser superados. Nunca fui tão parcial como serei agora.
Deixa tudo isso para trás, meu amor, abandona todas essas tentativas de amar,
todas essas ameaças de vida. O único amor e a única vida para ti sou eu, tal
como tu para mim. Tudo e resto são minudências, são apêndices de vida, mas não
a própria vida.
Sejamos felizes,
Verónica, como mais ninguém pode sê-lo em conjunto, no sentir do coração, na
promessa da alma e na ânsia do corpo.
Sim, sou teu,
Verónica, e, mais do que isso, quero que sejas minha. Para sempre. Para todo o
sempre. Para o único sempre.
Tu não queres essa
tranquilidade que dizes darem-te. Tu queres o palpitar forte de um amor
desmedido e isso é o que tenho para dar-te, é o que tens para dar-me.
Vem, meu amor, vem
amar-me, vem ser amada, vem dar-me sentido. O do amor que anima a vida dos
homens!
Com Amor,
Rui.