In Memoriam

Este fim de semana foi triste. Foi triste porque faleceu o meu amigo Joaquim. Faleceu da pior forma possível para quem cá fica. Novo, saudável e vigoroso. Na quinta-feira era um homem saudável, o mesmo Joaquim de sempre. Na sexta-feira faleceu de forma fulminante nos braços impotentes da esposa e de uma das filhas. No sábado foi o funeral.

A minha ligação ao Joaquim advém do facto de eu e a minha mulher termos sido professores das duas miúdas. As miúdas têm hoje trinta anos, a mais velha, e menos dois ou três a mais nova. Nada nem ninguém ficava indiferente ao Joaquim e, enquanto encarregado de educação, quis-nos conhecer e transportou-nos para a sua vida da mesma forma que entrou na nossa. De forma impetuosa e franca e aberta e conversadeira. A única com que sabia viver.

Normalmente, quando morre uma pessoa, realçamos as suas virtudes. Isso é normal. Mas hoje eu não queria falar tanto do Joaquim como das filhas. Ontem, elas preocuparam-me. Uma é mais expansiva e a outra é mais introvertida, mas as duas são mulheres de garra e de força e, contudo, ontem, ambas duvidavam de que seriam capazes de continuar. E é por isso que resolvi escrever este texto. Porque, de certa forma, ainda sou vosso professor. Porque acho que o vosso pai gostaria que eu vos dissesse estas palavras. Cá vão elas.

Eu sei que vocês vão conseguir. Eu sei que vão superar todas as dificuldades e todo o sofrimento e a razão é simples. O vosso pai superaria e a força dele vive em vós. Ele tinha três caraterísticas que vocês também têm. Um amor e uma dedicação profundos pela sua família. Uma generosidade extrema para com todas as pessoas que o rodeavam e uma atitude construtiva e proativa. Ora, se vocês mantiverem a união e a coesão familiar que o vosso pai construíu pelo amor, se vocês souberem ser generosas com o mundo e com as pessoas como ele era e se vocês forem dinâmicas e correrem riscos como ele correu, a vida vai sorrir-vos como lhe sorriu e, mais do que tudo, estarão a entregar uma preciosa herança do vosso pai aos vossos filhos, o que já existe e os que hão de vir, a herança de viver a vida pela postiva, distribuindo generosidade e alegria à sua volta.

Minha querida Carolina, minha querida Filipa,
a vida não vai ser um problema. As dificuldades não vão ser insuperáveis. Vive em vós a essência da superação que orientou a vida do vosso pai. Basta, perante um problema, pensarem como ele faria e já têm metade da solução. Sabem, eu aprendi que as pessoas não morrem verdadeiramente. Parte o corpo, mas fica a vida, a orientação, fica a postura e, com o tempo, à medida que a dor for adoçando, a memória do Joaquim vai erguer-se mais forte e mais límpida e a vida será de novo partilhada com ele, com o espírito dele. Minhas queridas, vocês têm um excelente pai. Comportem-se à altura da sua estatura humana e ficará de vós um rasto de generosidade e sucesso. 

Um beijinho,
Prof.


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