Olá Rui.
Estamos combinados
para sexta.
talvez não seja
justo andar a espicaçar-te a curiosidade para depois te deixar sempre em
suspenso. por resolvi escrever-te este mail em que te dou uma visão geral do
meu problema, que é um problema bom. Aproveito para desabafar. Preciso de
"falar" com alguém sobre isto.
Somos colegas há
muitos anos, conheceste-me solteira e boa rapariga :) depois casada e agora
divorciada. E, à distância, tens assistido à minha relação com o Zé Pedro. O Zé
Pedro, como sabes, é uma excelente pessoa. Temo-nos apoiado mutuamente e esse
foi um dos pilares do nosso relacionamento. O irónico é que eu comecei por não
esperar muito desse relacionamento e um dia convenci-me de que talvez pudesse
confiar nele e esperar dele algo de mais sólido, assumido e definitivo, e
quando isso aconteceu, eu reagi mal, muito mal. Quando finalmente o Zé Pedro me
propôs que vivêssemos juntos como um casal, eu assustei-me. Não tanto pela
proposta que eu esperava mais tarde ou mais cedo, mas pelo teor dela.
Tu conheces-me.
Sabes que sou uma pessoa livre e despreocupada e gosto de viver um dia de cada
vez. Ora, o Zé Pedro fez-me a proposta-maravilha, mas ela pareceu-me demasiado
calculada, muito como um negócio, com tudo previsto num contrato de compra e
venda. Ele vendia o apartamento dele e eu o meu e íamos comprar um muito maior
e mais caro, comprávamos um monovolume, também mais caro, mobílias, cortinados,
televisão frigorífico... ufa... assustei-me. Agora que eu me habituara a meu
canto e ao meu pouco e achava que era já muito, vejo-me confrontada com um
homem que eu amo, que me ama, que me quer assumir, mas sinto a minha vida a ser
enfiada numa folha de cálculo do excell. O compromisso de amor com o Zé Pedro
não me assusta, mas tudo o resto me deixa aterrada e sufocada. Eu quero-o a
ele, mas não preciso destas mudanças todas, destas coisas todas, destes
compromissos todos. É evidente que lhe fiz sentir isso, mas ele está muito
convicto do que quer, muito seguro dos passos a dar e começa logo a argumentar
e eu até percebo que, racionalmente, tudo aquilo faz sentido, mas não consigo
apropriar-me da ideia nem consigo sentir-me confortável com ela.
De repente, já não
estamos a falar de nós, nem do muito que nos amamos, mas estamos a discutir o
valor e a importância do património. Algures, nestes dois anos de namoro sério,
eu devo ter dado a entender que aceitaria um tal cenário, mas, se o fiz, juro
que foi involuntário. Há aqui um conflito que é meu e do Zé Pedro, mas também
há aqui um conflito que é só meu.
Vês, eu não te
disse que era um problema bom? Eu não te disse que qualquer outra mulher teria
aceitado?
Pronto, já
desabafei.
Não precisas
comentar nem dar conselhos, mas podes, claro! :)
Tânia.