"Com Amor," - Documento 81


Olá Rui.

Estamos combinados para sexta.
talvez não seja justo andar a espicaçar-te a curiosidade para depois te deixar sempre em suspenso. por resolvi escrever-te este mail em que te dou uma visão geral do meu problema, que é um problema bom. Aproveito para desabafar. Preciso de "falar" com alguém sobre isto.

Somos colegas há muitos anos, conheceste-me solteira e boa rapariga :) depois casada e agora divorciada. E, à distância, tens assistido à minha relação com o Zé Pedro. O Zé Pedro, como sabes, é uma excelente pessoa. Temo-nos apoiado mutuamente e esse foi um dos pilares do nosso relacionamento. O irónico é que eu comecei por não esperar muito desse relacionamento e um dia convenci-me de que talvez pudesse confiar nele e esperar dele algo de mais sólido, assumido e definitivo, e quando isso aconteceu, eu reagi mal, muito mal. Quando finalmente o Zé Pedro me propôs que vivêssemos juntos como um casal, eu assustei-me. Não tanto pela proposta que eu esperava  mais tarde ou mais cedo, mas pelo teor dela.

Tu conheces-me. Sabes que sou uma pessoa livre e despreocupada e gosto de viver um dia de cada vez. Ora, o Zé Pedro fez-me a proposta-maravilha, mas ela pareceu-me demasiado calculada, muito como um negócio, com tudo previsto num contrato de compra e venda. Ele vendia o apartamento dele e eu o meu e íamos comprar um muito maior e mais caro, comprávamos um monovolume, também mais caro, mobílias, cortinados, televisão frigorífico... ufa... assustei-me. Agora que eu me habituara a meu canto e ao meu pouco e achava que era já muito, vejo-me confrontada com um homem que eu amo, que me ama, que me quer assumir, mas sinto a minha vida a ser enfiada numa folha de cálculo do excell. O compromisso de amor com o Zé Pedro não me assusta, mas tudo o resto me deixa aterrada e sufocada. Eu quero-o a ele, mas não preciso destas mudanças todas, destas coisas todas, destes compromissos todos. É evidente que lhe fiz sentir isso, mas ele está muito convicto do que quer, muito seguro dos passos a dar e começa logo a argumentar e eu até percebo que, racionalmente, tudo aquilo faz sentido, mas não consigo apropriar-me da ideia nem consigo sentir-me confortável com ela.

De repente, já não estamos a falar de nós, nem do muito que nos amamos, mas estamos a discutir o valor e a importância do património. Algures, nestes dois anos de namoro sério, eu devo ter dado a entender que aceitaria um tal cenário, mas, se o fiz, juro que foi involuntário. Há aqui um conflito que é meu e do Zé Pedro, mas também há aqui um conflito que é só meu.

Vês, eu não te disse que era um problema bom? Eu não te disse que qualquer outra mulher teria aceitado?

Pronto, já desabafei.
Não precisas comentar nem dar conselhos, mas podes, claro! :)

Tânia.

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