Semana de Reis
O Aviso que Espoletou
Tinha algumas coisas para contar acerca do Clã do Comboio,
mas ainda não o fizera por manifesta falta de tempo. Contudo, houve um clique.
Algo espoletou a minha vontade de voltar a escrever sobre o Clã. Foi um
anúncio. Um daqueles avisos em voz serena e sensual que indicam qual é a
próxima estação. Entrei no Regional em Santa Apolónia. A próxima paragem seria,
e foi, o Oriente. Daí até ao Entroncamento ou, no presente caso, como se verá,
até Torres Novas, a viagem duraria, ainda, cerca de 1h40m. O comboio arrancou,
andou uns metros, e ouviu-se o aviso em cristalina e sensual voz:
- Próxima
paragem: Riachos/Torres Novas/Golegã.
Um senhor de idade avançada não se conteve:
- Eh pá, foi
rápido. Vou passar a vir sempre neste.
Feicebuqueiras
A Senhora das Tripas à Moda do Porto é uma jovem que há
uns meses fez uma ou duas viagens connosco. A empatia foi natural e imediata e
ela prometeu voltar. Voltou na semana antes do Natal e, para alegria nossa, tem
viajado com o Clã com alguma regularidade. Ela e a Senhora das Caralhotas, que
tem um iPad, são muito feicebuqueiras. Como uma casou há pouco mais de seis
meses e a outra há pouco menos de seis meses, é vê-las de iPad na mão a
usufruírem das maravilhas da tecnologia e a mostrarem à malta um rosário de
fotos com vestidos de noiva, penteados de noiva, ramos de noiva, convidados de
noiva, noivos de noiva e damas de honor de noiva. A propósito de uma dessas
damas, de honor chamada, o Rapaz do Fato Cinzento terá dito, Essa é boa… é mesmo muito boa! Devia ter
estado calado porque a Senhora das Caralhotas apressou-se a rematar com frase
já aqui citada, Isso era muito toucinho
para o teu papo-seco! Em todo o caso, como aquilo dá para aumentar o
tamanho das imagens com um simples passar de dedo, o Rapaz do Fato Cinzento, o
Escritor e o RB têm andado entretidos a inspecionar a qualidade do corte dos
vestidos. Só isso, mero interesse antropológico. Não falta nada no Clã, nem o
Facebook a bordo para fazer um GOSTO DISTO!
Queijo do Rabaçal
Este queijo deu voltas. Primeiro foi o Escritor que, na
sua magnânima generosidade, disse, O que
fazia aqui falta era um queijinho do Rabaçal. Amanhã trago um. Depois, quando
o comboio chegou a Santa Apolónia, lá foi ele com a Rapariga do Riso Fácil à
procura do queijo do Rabaçal ao supermercado da estação. Não havia. Em vez
disso trouxe uma bela duma tarte de noz. Ora, o VM, que é danado para a
brincadeira, começou a agradecer o queijo todos os dias. Mas também não o
trouxe! Trouxe o pão que, diga-se, era muito bom e a Senhora da Revista de
Culinária, essa alma santa de paciência feita, trouxe o belo do queijo do
Rabaçal. O VM, em tirada de fino recorte humorístico, virou-se para o Escritor
e disse, É bom, este queijo do Rabaçal que tu trouxeste!
O certo é que todo o Clã se atirou a ele e foi por isso
que sobrou pouco. Mas, mesmo esse pouco, tinha os dias contados. À tarde, no
regresso, reencontrámo-nos e lá vinha a Senhora da Revista de Culinária.
Perguntamos-lhe pelo queijo que apareceu logo ali e foi irmãmente repartido por
todos os elementos do Clã. Do Clã e mais uma senhora desconhecida que se via
gostava de queijo porque ia com água na boca. Oferecemos-lhe e ela aceitou.
Simpaticamente.
Dia de Reis
A tradição ainda é o que era. Pelo menos, em alguns
locais, para algumas pessoas. Foi um dia fantástico de várias maneiras. Em
primeiro lugar porque o Clã estava particularmente composto, depois, porque se
fez um pequeno-almoço comemorativo da data com tudo o que era preciso, a
começar pela comunhão e pela alegria generalizada entre os elementos do Clã.
Estava a Senhora da Provecta Idade, a Senhora das Caralhotas, a Senhora das
Tripas à Moda do Porto, a Rapariga do Riso Fácil, o Escritor, o Filho do
Escritor, a Rapariga com Brinco de Pérola, o Rapaz do Fato Cinzento, o VM, a
Senhora da Revista de Culinária, o JJ, o RB, a Mulher do RB e um Tipo Careca a
que Chamamos Álvaro. Começámos por degustar o bolo rainha que o Rapaz do Fato
Cinzento trouxe acompanhado do espumante que o Escritor ofereceu. Avançámos
para o café quentinho da Rapariga com Brinco de Pérola, para os folhados da
Senhora das Tripas à Moda do Porto e para os enrolados de salsicha da Senhora
das Caralhotas. É evidente que os enrolados de salsicha proporcionaram
metáforas de ordem diversa, em particular, essa que o leitor está a pensar. E
quando pensávamos que a merenda estava terminada, eis que a Senhora da Provecta
Idade revela que tinha trazido um bolo-rei. Entre fazer-lhe as honras e deixar
para a próxima, optámos por fazer-lhe as honras e lá fizemos o gostoso
sacrifício de “empacotar” também o bolo-rei. Foi um interessante momento de
convívio em que a comida foi só o pretexto para uns momentos bem passados e que
terminou da forma mais significativa possível. Ao chegarmos ao Oriente, a
Senhora das Tripas à Moda do Porto disse:
- Oriente?
Já? Isto hoje foi rápido.
O curioso é que até foi um dia em que o Interregional das
7:18 até chegou particularmente tarde. É assim, o Clã, agora até já mantém
acesa a chama da tradição. A bordo!