A Morte da Inocência

A Morte da Inocência


Ainda me lembro
Do tempo em que não duvidava.
Das manhãs de sol
Só porque o sol era sol.
Das tardes com chá e torradas
Só porque havia chá e torradas.
Ainda me lembro da dádiva
Natural
De um sorriso,
De uma mão aberta
Numa mão deserta.
Ainda me lembro quando aceitar 
Era só isso,
Sem perguntas
Nem respostas para elas.
Ainda me lembro dessa inocência
Pueril e feliz.


Depois vieram as coisas boas
E tudo isso morreu.
Depois veio o controlo
Do Universo
E tudo isso se perdeu.
Veio a sombra,
Vieram as confirmações,
As respostas
Antes das interrogações.
E veio o tempo de ser homem,
A maravilha das conquistas,
E encurtaram-se as vistas
Da alma.


E cresci.
E vivi.
E vi que não vi.
E chegou,
Aos poucos,
Cedência a cedência,
A sombra grande e escura
Que havia de ocultar a ternura
Dos gestos serenos
E semear a dúvida adulta
Nos corações pequenos.


E quando vim a escrever
Estas palavras,
Já não havia vida nem conforto.
Era homem.
E estava morto.
jpv

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