Histórias do Autocarro 28 - Primavera, mas não tanto!


Primavera, mas não tanto!


Ainda há pouco tempo escrevi e publiquei neste blogue dois apontamentos sobre a chegada da Primavera. E, lembro-me bem, publiquei com eles algumas fotos da flor de amendoeira.

Esta sexta-feira, à porta do autocarro 28, presenciei uma cena que pode ser invocadora da Primavera, mas noutro plano, digamos, num plano mais humano. Estava uma radiosa manhã de sol primaveril, daquelas em que uma pessoa até acredita que vai tudo correr bem. Contudo, e por isso estas linhas fazem sentido, estava um frio cortante, que entrava na pele, sob as roupas. Não estranhei, pois, que as pessoas vestissem camisolas de lã e casacos e blusões e sobretudos. Já não é tempo de garruços na cabeça, mas ainda não é tempo de deixar o casaco em casa. E foi então que a vi. Eu e toda a gente que por ali passava.

Uma senhora junto aos cinquenta, cabelo claro, muito curto, a pele alva como lençóis depois da lixívia, óculos de massa retangulares e encarnados, sapatos encarnados de salto alto e... vestia pouco mais do que isto. Eu sei, parece um exagero. Mas, bem vistas as coisas, não é. Além do já referido, a senhora só tinha no corpo um vestidinho encarnado de algodão. De cavas, com um decote generoso, sem costas e a dar por cima do joelho, muiiiito por cima do joelho! A roupa interior era de uma marca pouco comum, mas que já se tem visto: "Ausente".

E assim, nos primeiros dias de março, num amanhecer solarengo e frio, houve uma alma que enfiou um vestidinho diminuto e esqueceu-se do resto. Como que a antecipar a Primavera.

Eu, por acaso, até penso que podemos ir antecipando a Primavera, mas não tanto!

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