Crónicas de Maledicência - Don't Cry for me Argentina


Crónicas de Maledicência - Don't Cry for me Argentina


A senhora Cristina Kirchner, Chefe de Estado da Argentina, nacionalizou uma gasolineira que, naquele país, explorava a extração de petróleo. E logo se levantou um coro de ofendidos por esse mundo fora, uma plêiade de injuriados, Há aqui d'El Rey que se deu um furto, uma nação roubou uma gasolineira.

Em primeiro lugar, há que perguntar onde é que se escondem os mesmos ofendidos quando as empresas privadas roubam à saciedade os Estados, seja diretamente, seja por aproveitamentos indiretos diversos.

Em segundo lugar, importa referir que a Chefe de Estado da Argentina não nacionalizou para si. Nacionalizou para a Argentina e para os argentinos. É que faz toda a diferença!

Em terceiro lugar, há que reconhecer e relembrar que a senhora Kirchner entregou um plano de pagamento das ações que nacionalizou e mantém a empresa a funcionar preservando todos os postos de trabalho.

Em quarto lugar, e esta é mesmo muito relevante, a Chefe de Estado entregou o processo a um tribunal para ser validado e distribuiu 49% das ações nacionalizadas pelas províncias argentinas onde se extrai petróleo.

E pronto. Agora que já despachámos as trivialidades, vamos lá ao que interessa. A exploração de petróleo dá lucro, muito lucro. Mas tem regras. Naquele caso, por exemplo, a empresa tinha de apresentar níveis de produção compatíveis com o acordo celebrado. Acontece que, os mesmos que gritaram, Ai Jesus, roubaram uma gasolineira, esqueceram-se de mencionar que a empresa estava a ser paga para... NÃO produzir! A queda dos índices de produção era desastrosa sendo que a Argentina, país que subsiste em grande parte da venda do crude, estava na iminência de ter de o comprar!

Compreende-se que o processo seja complexo e compreende-se que seja necessária muita coragem por parte da Presidente da Argentina. Mas coragem parece não lhe faltar, até para dizer o óbvio: "Esta Presidente não responderá a qualquer ameaça (...) Sou um chefe de Estado, não uma vendedora de legumes (...) Todas as empresas presentes no país, mesmo que o acionista seja estrangeiro, são empresas argentinas."

É natural que os comentadores portugueses, pífios de caráter, habituados a ver Portugal produzir energia que não o deixam exportar, habituados a ver a exportação de ovos a converter-se em importação, habituados a ver o Estado português a ceder a pressões e a soçobrar a tudo e a todos, estranhem. É o que acontece a quem não tem caráter quando vê um. Pergunta, Mas o que é isto?!

Tenho dito
jpv

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