Crónicas de Maledicência - Livre Arbitragem


Crónicas de Maledicência - Livre Arbitragem


Eu cá, sou benfiquista. E, nessa medida, quero que o Sporting perca sempre. Isto não é mau nem bom. É assim desde o princípio dos tempos, mais coisa, menos coisa. De resto, os sportinguistas querem o mesmo, mas ao contrário o que, a meu ver, está muito bem. Há exceções. Por exemplo, nos jogos internacionais, sou português e quando joga o Sporting sou sportinguista durante noventa minutos. Acontece que, para querer que o Sporting perca, é preciso, é mesmo fundamental, que o Sporting exista. Digo isto porque, de onde menos se esperaria, quando menos se esperaria, chegam notícias de auto-destruição.

Um dirigente do clube de Alvalade foi constituído arguido num processo de corrupção em torno da arbitragem. Segundo os jornais, está acusado de cinco crimes. Ressalve-se e realce-se que um arguido não é um culpado. Também é verdade que não é um simples suspeito. É verdade, ainda, que, em Portugal, há muito se fala de clubes que aliciam árbitros seja com dinheiro, seja com viagens ao Brasil. Nalguns casos a culpa morreu solteira.

O que penso é que a corrupção deve ser combatida e condenada independentemente do ambiente social em que aconteça e, no caso do futebol, independentemente dos clubes que envolva. É preciso ser célere e exemplar. Quando Vale e Azevedo foi condenado por ter usado em seu proveito verbas de transações de jogadores, achei muito bem que fosse punido. Vigarice, investigação, processo, condenação, é um alinhamento que faz sentido na minha cabeça.

Ora, este senhor dirigente do Sporting foi constituído arguido, logo, pende sobre si forte suspeita de falseamento da verdade desportiva. Não é difícil perceber que o Sporting merece melhor, merece não estar envolvido nestas trapalhadas. O que já é difícil perceber, é a atuação do clube em relação ao dito dirigente. Primeiro fez aquilo que me pareceu razoável. Afastou o senhor.  Depois fez o inimaginável. Aceitou-o de volta às funções de dirigente desportivo do clube. Quem está de fora fica a saber o quê? Que, para um dos maiores clubes portugueses, qualquer um pode ser dirigente, mesmo que penda sobre si forte suspeita de corrupção.

Acho que o Sporting merece melhor. Acho que a idoneidade do clube não pode ser beliscada nem confundida com a putativa, agora posta em causa pelos tribunais, idoneidade dos dirigentes.

Portugal é, infelizmente, um país onde se promove a ignorância e se premeia a desonestidade. E às vezes é só porque não tem o cuidado e a coragem de combatê-los. A meu ver, era imperioso que, enquanto o caso não estivesse resolvido, o senhor, por razões éticas, saía do clube e não continuava a ter poder de decisão numa esfera de ação em que está sob suspeita.

Se não vejamos, ele voltou, imaginemos que o processo demora seis meses ou um ano e o senhor é condenado. Que vai dizer o clube aos sócios, adeptos e portugueses em geral? Que esteve a ser dirigido por uma pessoa que não tinha idoneidade para o fazer?

Afastá-lo agora seria uma atitude do mais elementar bom-senso. O Sporting e os sportinguistas mereciam isso. Mas não. Que interessa lá isso?! Vivemos num país de livre arbitragem. Cada um apita por si!
Tenho dito
jpv

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