Maio.Mão.Mana.

Maio.Mão.Mana.


Era uma madrugada
De palavras em surdina,
Era um menino
E uma menina.
Era um amanhecer
De gestos rápidos
E vozes sussurradas.
Era o exemplo de como não deviam nascer
As madrugadas.
Era uma inocência,
Uma emoção e uma esperança,
Era o fim violento
Do meu tempo de criança.
E a tua mão solta
No ar
Entregue depois na minha
Anunciava que a desgraça viria
Mas tu não estarias sozinha.
Nem eu.
Teu pequeno guardião,
Homem para te segurar a mão
E cruzar os ares,
As geografias dos homens
E da violência.
E percorrer contigo
As emoções todas.
Quem nos quis separar
Uniu-nos.
E perdura inquebrantável
Esse laço,
Esse breve
Espaço,
Esse fundo
Traço
Da nossa união.
Porque um dia,
Quando quiseram separar-nos,
Demos a mão.
E dada ficou
Para sempre,
Por entre mundos
E gente,
Sucessos
E insucessos,
Mínguas
E excessos,
Os meus
E os teus.
E, afinal,
Aquilo que fora o fim
Foi, de facto,
Para ti e para mim,
O princípio
De todas as vidas.
Das esperanças perdidas,
Das derrotas
E das conquistas.
E as coisas,
Bem vistas,
Ficaram bem como estão.
Eu, no teu peito.
Tu, no meu coração.
E viemos a crescer
E a ser outra gente.
E, hoje,
Olhamos para trás
Lá, onde jaz
A nossa infância.
O início da errância
E o fim do amor,
Nessa madrugada
De medo e terror,
E sorrimos.
Ficaram só os teus olhos
Nos meus olhos,
As tuas mãos
Nas minhas mãos,
A tua presença
Na minha existência,
O teu sorriso
Na minha essência.
E nada teve importância,
Tendo a importância toda,
Porque, para além das leis dos homens,
Das armas, das balas e das guerras,
Amanhecemos outra vida,
Nascemos outras pessoas,
Crescemos nos braços
Um do outro
E hoje somos um.


Não foi a morte, afinal,
Que nos matou.
Não foi a vida, afinal,
Que nos viveu.
Foi o amor fundo
Do teu coração
Que fez bater o meu.
E há nessa cumplicidade
Um rasto estrelado de mistério,
O mano e a mana
São um caso sério
Do amor
Semeando imortalidade.


Era maio
E eu segurava a tua mão,
E tu eras a minha mana,
E contra essa força
E essa razão
Os homens não podiam nada.
Era noite,
Mas era também a alvorada
Do nosso perene amor.
jpv
À minha mana no 37º aniversário
do dia em que morremos e vivemos
juntos. Para sempre.

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