Voz

Tem seda, a voz,
E um esgar de rouquidão
Que é sempre mais bonito,
O perfeito,
Com um traço de imperfeição.
E transporta tons
De sensualidade
E malandrice anunciada,
Pode ser séria e grave,
Ou rebentar
Numa gargalhada.
Tem promessas
E tem melodia.
Pinta palavras antigas
E desenha quadros
De sintonia.


É uma voz que vem de dentro
E preenche o espaço em volta.
É uma voz que prende
E é uma voz que solta.


E tem sexo e desejo,
Tem movimentos sensuais.
Tem o amor num gotejo
De palavras ideais.
E incita.
E motiva.
E conduz.
E cativa.


É um instrumento 
De trabalho
E de amor.
E solta a cada momento
Uma força e um clamor.
Vive nela
Uma vida
Em pujança
E em emoção.
A minha voz traça sempre a dança
Da libertação.


E é com ela
Que me zango.
E é com ela
Que amo.
E é com ela
Que me entristeço.
E é com ela
Que me alegro.
É com a minha 
Dolente e triste voz
Que me faço.


E dou,
Como num ritual antigo,
Um jogo de risco
E de perigo,
Ao mundo
A minha forma
Em palavras fundida.
É com a minha voz
Que escrevo a vida.
jpv

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