Crónicas de Maledicência - A Itália mostra como se joga à bola


Crónicas de Maledicência - A Itália mostra como se joga à bola


Esta crónica chama-se assim porque o título que lhe dei em primeiro lugar era demasiado extenso. Rezava: "O Porquê da Vitória da Itália sobre a Alemanha Constituir um Trauma para Portugal".

Pode sintetizar-se em "A Itália mostra como se joga à bola", mas, efetivamente, este resultado é, para a Seleção Portuguesa, traumático. Eu explico. Como é sabido, eu sou daqueles que se sente orgulhoso, genuinamente orgulhoso, com o desempenho dos nossos rapazes no Euro 2012. Foi uma presença digna e quando saímos, saímos sem perder e de uma forma aleatória. Fomos nós, podiam ter sido os outros.

Há, contudo, um interessante e inegável pensamento que, mais ou menos consciente, atravessa a nossa mente coletiva. Nós temos sempre, ou quase sempre, prestações dignificantes, honrantes, brilhantes, mas, seja por azar, seja por um jogo que correu mal, seja por infelicidade, seja pelo poste, pela barra, pela chuva, pelo vento ou por uma inusitada inspiração do adversário, ficamo-nos pelo quase. Quase, quase, quase... e o caneco nunca mais cá vem parar.

E é aqui que entram os italianos e o trauma que nos causaram esta noite, meras 24 horas após o nosso último quase. É que estes tipos são useiros e vezeiros em fazer precisamente o contrário. Geralmente fazem uma sofrível fase de grupos, ganham eliminatórias com um futebol mauzinho e com resultados tangenciais ou a poder de penaltis e, quando todos os damos por perdidos contra o "futuros campeões", eles erguem-se não se sabe de onde e vencem as eliminatórias finais e chegam mesmo a vencer torneios.

As apostas davam-nos por derrotados esta noite. Até o Platini se esqueceu deles e apostou noutros cavalos mas a squadra azzura, em meros 30 minutos, arranca dois golos, faz um excelente jogo e elimina aqueles que, afinal, já não são os futuros campeões.

E isto é traumático porque nós fazemos tudo bem e ficamo-nos pelo quase e eles fazem tudo mal e vão longe. Tão longe que eu acho que, esta noite, o Casillas e os outros espanhóis todos, estão a pensar: antes nos tivessem calhado os bons e fortes do que estes reles e fracos. A Itália representa para nós uma inversão de valores: é assim uma espécie de o crime compensa do futebol!
Tenho dito!
jpv

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