ErotiKa - O Perfume e os Espinhos


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jpv
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O Perfume e os Espinhos

Era ainda cedo na madrugada. Estava escuro, mas já não era aquele breu cerrado de não conseguir ver-se nada. No céu, ao longe, anunciava-se uma ténue claridade como se alguém no outro lado do mundo tivesse deixado uma luz de candeeiro acesa. Ele virou-se na cama e ao virar-se a mão dele tocou a perna dela, ali junto à coxa, e sentiu-lhe a suavidade da pele e o calor dos quarenta. Foi o suficiente para não conseguir dormir mais. Como seria possível estarem a viver uma crise tão profunda? A verdade é que amava aquela mulher em todas as suas facetas. O sorriso, o tom de voz, a doçura no olhar e  o perfume da pele. Cheirava a rosas mesmo sem colocar qualquer água-de-colónia, ou creme ou o que quer que fosse. Sempre tinha sido assim. E apesar de já ter entrado nos quarenta, mantinha certa frescura e alguma energia. Contudo, tirando o sexo, que era formidável, nos últimos dois anos pareciam o cão e o gato. Ralhavam um com o outro, estavam sempre em desacordo, ainda um não tinha falado, já o outro estava a contrariá-lo, havia mesmo momentos em que se desprezavam. Sofriam ambos. Por se quererem e não saberem como. Por se amarem e se desprezarem. Como chegaram àquilo? A ver o que acontecia, deixou ficar a mão na perna dela. Ela virou-se para ele, segurou-lhe a mão, levou-a ao púbis, depois um pouco mais abaixo até terrenos visivelmente húmidos e disse-lhe, Está aqui o que queres. Vem buscar! E ele foi. Beijou-lhe os seios enquanto as suas mãos iam em busca do prometido, depois queimou-lhe o ventre com a língua e por fim bebeu-a até que ela perdesse a noção de onde estava e se esvaísse em gritos despudorados e excitantes como tantas vezes acontecia, Vem malandro, come-me toda, vem fazer-me tua, vem, quero vir-me na tua boca. Excitado e incitado, ele foi e cumpriu as ordens dela e quando a sentiu saciada, mudou o jogo súbito e sem aviso, Agora é a minha vez, acaricia-te, prepara-te para mim... ela preparou e aconteceu o que tinha de acontecer e adormeceram profundamente até que a luz ténue venceu completamente o manto negro e começaram a fazer pequenos gestos, viraram-se na cama, afastaram-se, ela levantou-se e foi para a casa-de-banho. Ele ficou um pouco mais e depois levantou-se também e seguiu-a e ao aproximar-se da casa-de-banho veio-lhe aquele aroma a rosas que ela sempre exalara e o deixava inebriado, mesmo quando sofria. Entrou e antes que pudesse dizer alguma coisa, ela atalhou:
- O que aconteceu esta noite foi um engano, ouviste?
- Não parecias enganada. Bem pelo contrário.
- Mas estava. De resto, já tivemos esta conversa montes de vezes. O sexo é ótimo, nós é que não nos entendemos.
- Bom dia!
- Bom dia! E vê se deixas a tampa da sanita em baixo.
- Foda-se, tu não páras. Não me dás um minuto de paz...
- Paz? Atreves-te a falar-me de paz? Eu dei-te a minha vida e tu transformaste-a num inferno...
- Como? diz-me ao menos como? O que foi que eu te fiz?
- Tudo. Basta que sejas tu!
- Não dá, sabes, não dá para suportar mais essa agressividade gratuita. Para mim acabou. Vou fazer uns telefonemas, vou pedir o dia e vou-me embora. Esta noite já cá não fico.
- Boa viagem! Já devias ter ido há mais tempo. Há vinte anos, sua besta!

Saiu de casa exasperado. Telefonou para o trabalho. Explicou que ia separar-se e precisava de um dia. Deram-lhe autorização para usar mais dias. Esses processos são complicados. Resolva as suas coisas e venha quando estiver concentrado. Vencido este obstáculo, telefonou a um amigo, Olha lá pá, tu emprestas-me o teu carro por hoje, é que como tens um mono-volume dava-me jeito para tirar a minha tralha lá de casa! Eh pá, eu empresto-te, mas isso é mesmo a sério? Não tem emenda? Vocês já falaram um com o outro? O problema, pá, foi termos falado um com o outro. É mesmo a sério.

Por fim, lembrou-se de certa oferta que lhe fizeram há um par de meses atrás e telefonou-lhe:
- 'Tou, Júlia...
- Sim, Miguel, já vi que és tu... que é feito de ti? Não te vejo há quase uma semana...
- Lembras-te da oferta que me fizeste há dois meses...
- Lembro... oh se lembro... fazer-te essa oferta foi uma das decisões mais difíceis da minha vida, não teres aceitado foi um golpe duro...
- Sim, mas eu aceito agora se ainda estiver de pé...
- Assim? De repente? Miguel, havia uma condição...
- A minha mulher já não é um problema. Acabámos tudo hoje!
- Hoje? E isso é a sério ou logo à noite vais voltar para ela a correr? Não achas demasiado fresco para te mudares já cá para casa?
- Tenho as minhas coisas no carro do Artur. O gajo foi um porreiraço e emprestou-me o  mono-volume. E como não tenho mesmo para onde ir, e também já não tenho a minha mulher, que era a tua condição, pensei, Porque fazer duas mudanças se posso fazer só uma?
- Eh pá... isso é repentino... mas olha, a oferta está de pé, porque não?! Eu saio às 18, aparece às 18:30. Dás-me tempo de chegar a casa...
- Ok. Obrigadão.
- Não te preocupes, vais pagar com o corpinho!

Quando acabou de tirar as coisas de casa e entrou para o carro atafulhado reparou com saudade que o perfume de rosas bailava no ar. Ainda não eram 18, mas não tinha mesmo para onde ir. Estacionou em frente ao prédio de Júlia, do outro lado da rua, e esperou. Às 18 viu-a chegar abraçada a um tipo novo, alto, boa compleição física e um ar tão saudável quanto parvo. Junto à porta do prédio, ela esticou-se, pendurou-se no pescoço dele e beijou-o longamente e com avidez. Percebeu que trocaram algumas palavras e o tipo foi-se embora.

Deu à chave do carro, meteu a primeira e arrancou para a vida...
jpv

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