Crónicas de África - O Pão que o Africano Amassou


O Pão que o Africano Amassou

Maputo, 12 de outubro de 2012

Não será extensa, esta crónica. Mas quero-a intensa. E por isso começo com uma frase curta e objetiva que contém em si todo o propósito da crónica: o pão aqui é fabuloso!

Mastigar o pão que o moçambicano amassou faz-me ter saudades. Saudades da inocência, saudades do genuíno, saudades de antes dos fingimentos, saudades de não ouvir falar de globalização, saudades de não haver desculpas para piorar a qualidade de vida sob o pretexto de que se está a melhorar.

E porque é melhor o pão aqui?
Em primeiro lugar não precisam de lhe chamar caseiro, para ser caseiro. Não lhe chamam nada. É pão e pronto. Depois, porque sabe a pão. Ou seja, a farinha misturada com água e uma pitada de sal. Os pães, aqui, sejam papo-secos, bolas, pregos (compridos), pães de leite ou arrufadas, são enormes. Um papo-seco enche uma mão e, imagine-se, é pesado! Tem imenso miolo branquinho e fofinho e é um pão muito guloso!

O segredo é simples, eu já perguntei, o pão aqui faz-se com três ingredientes: farinha, água e sal! No caso das arrufadas e dos pães de leite, juntam também leite, ovos e açúcar. Quer isto dizer que o pão moçambicano não leva melhoradores nem conservantes e como ninguém tentou melhorar o quer já era bom, bom ficou! Como ninguém tentou conservar um alimento que se vai consumir no próprio dia, ele está naturalmente conservado. E o pão aqui não é sujeito a análises químicas rigorosas, com senhores de bata branca a inspecionarem. Nada disso. É feito por padeiros! Vejam lá ao que isto chegou, o pão moçambicano é feito por padeiros! Sim, esses de camisolas de mangas cavas que passam a noite acordados e se deitam de manhã! Ora, ninguém vem controlar o tamanho do pão, nem o peso, nem a cor, nem a textura nem que químicos deve levar para ser mais seguro o consumo no interesse do próprio consumidor. Enfim, o pão que o africano amassou é genuíno, é verdadeiro, é simples como as coisas simples, come-se por gula só com manteiga, é fofinho, tem miolinho, e leva só o que é preciso para fazer pão. E querem os amigos leitores rir-se? Sendo Maputo uma cidade caríssima, onde quase tudo custa os olhos da cara, um desses pães, papo-seco chamado, pesado, enorme, a saber mesmo a pãozinho, um desses que no fim de comer só apetece comer outro, custa 3 meticais que é mais ou menos, 8 cêntimos de 1€.

Isto leva-me a pensar que, às vezes, na ânsia de melhorarmos, de fazermos mais e mais seguro, nós acabamos criando novas necessidades, novos e desnecessários custos para o utente que são nichos de mercado para quem se aproveita disso e acabamos estragando tudo. 

E agora, caros leitores, se me dão licença, vou-me retirar ali para a cozinha a ver se faço uma sandocha deliciosa. Lá fora, chove, cá dentro, haverá café quente e pão com manteiga. Simples, não?
jpv

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