Crónicas de África - Rápido e Intenso


Rápido e Intenso

Maputo, 19 de outubro de 2012

Quando vos escrevo, ainda se veem os relâmpagos ao longe, já envergonhados, e os trovões são só um sobressalto distante. Chove pouco. Nem parece que há poucos minutos esteve aqui o inferno.

O dia foi cansativo, muito trabalhos, algumas mudanças para gerir e o nosso corpo vinha pedindo tréguas, a cabeça cansada e muita fome. A Paula sugeriu um franguinho no Piri-Piri. Bora lá! Quando saímos do carro, a noite estava quente, um calor noturno a rondar os 30º. E havia no ar uma humidade que se sentia na pele. O vento não se mostrava. Era, por isso, uma noite calma, quente e húmida. Ficámos na esplanada e quando já estávamos a acabar a refeição, levantou-se um vento forte e repentino de fazer voar os guardanapos de papel, levantar as toalhas das mesas, as saias das senhoras que se seguravam a elas como podiam, os cabelos desalinhados, folhas pelo ar e súbito uma bátega de água forte e certa. Pagámos e fugimos para casa. Assim que chegámos, o céu rebentou num clamor de assustar. Os relâmpagos eram tantos que não acabavam uns para logo se verem os flashes dos outros, nem eram a seguir uns aos outros, eram em simultâneo. E, sobretudo, eram de uma claridade intensa e muito próxima. Os trovões eram mais espaçados, mas de uma força assustadora, tudo parecia tremer e alguns quase faziam acreditar que o céu se estava a rasgar, tal a a intensidade e a proximidade do som. A chuva continuou certa e encheu as ruas. Subiu do chão um profundo e inconfundível cheiro a terra molhada. E tudo isto demorou meia hora. Agora, restam só resquícios longínquos do poder que há pouco se mostrou sobre Maputo. Rápido e intenso. Durante a tempestade o R. ligou-me. Também está a chover aí? Sim, bastante, isto é forte! Forte? Ainda não viste forte. Isto é médio!

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