Crónicas de África - Um Dia Depois do Fim do Mundo


Crónicas de África - Um Dia Depois do Fim do Mundo

Vilankulo, 22 de dezembro de 2012

Contra o que eu estava à espera, ontem não foi o fim do mundo, ou, se foi, eu tive direito ao Paraíso!

Estou recostado na cama, com a rede mosquiteira à minha volta, são nove e meia da manhã, tomámos o pequeno-almoço às sete e agora estamos só a deixar correr o tempo e a sentir a suave brisa que sopra do Índico e entra na nossa cabana para nos embalar o sono. Daqui, de onde estou, vejo as árvores e a vegetação do nosso jardim e, mais à frente, uma sucessão infindável de azuis marinhos a perder de vista e as velas dos dhows a cortarem a paisagem.

Vilankulo é uma terra pequena onde os lodges para turistas vivem porta com porta com as habitações locais. Tem a rua principal e mais duas ou três estradas asfaltadas. Tudo o resto é areia. Alta. Podem percorrer-se de carro desde que seja um 4x4. Uma dessas estradas de terra é à beira-mar com árvores grandes e antigas a projetarem sombras na areia da praia. Outras, só se percorrem a pé. Têm 1,5m de largo e vende-se aí de tudo. É tal a agitação que as pessoas podem perder-se umas das outras. Ficámos alojados no Baobab Beach Lodge. Sem ser luxuoso, acho que nem tem essa pretensão, é um local agradabilíssimo. Os quartos ficam em cabanas de madeira e palafita projetadas sobre a praia. Tem imensas árvores e sombras refrescantes e a passagem da brisa fá-las cantar para nós um cântico sussurrado e acolhedor. Apesar de estar equipado com uma cozinha comum, o Baobab tem um restaurante com uma oferta simpática e muito acessível.

Cada olhar, cada movimento, cada momento, pede uma fotografia. O nascer do sol por cima do mar é tão belo que a Paula levanta-se todos os dias às quatro e meia para vê-lo e fotografá-lo. Quando a maré vaza, o mar vai lá para longe e os cascos dos barcos ancorados sentam-se na areia a descansar. Poucas horas depois, volta a encher e vem marulhar junto às cabanas e os barcos reaprendem vontades navegantes. A água é tão límpida que podemos tê-la pelo peito e ver os pés com nitidez. Conhecemos uns sul-africanos simpáticos enquanto procurávamos algum carvão para grelhar. Nem eles, nem nós tínhamos. Acabámos por conseguir algum emprestado a um outro sul-africano e pagámos a um terceiro tipo para repor o que gastámos. Conversámos bastante e a noite tornou-se muito interessante por isso. A Paula ensinou-os a comer ananás grelhado que eles desconheciam e adoraram.

No dia seguinte, fomos todos juntos à ilha de Magaruke. É uma pequena ilha no arquipélago de Bazaruto com a particularidade de ter, mesmo à frente da ilha, uma barreira de coral com mais de um quilómetro e meio. E nem é preciso nadar. Basta colocar os óculos e o tubo respirador e a corrente faz o resto. Empurra-nos suavemente ao longo da barreira de coral. Acho que vimos todos os peixes que estão nas enciclopédias e nos filmes da Disney. Até vimos o Nemo! Tudo começou ainda na deslocação para a ilha onde vimos o peixe voador. O bicho emerge e voa literalmente por cima da água durante vários metros. Na barreira de coral, a variedade é quase infindável. Peixes amarelos com listas pretas finas, com listas pretas largas, peixes pretos com listas amarelas, peixes cinzentos, quase transparentes, com um pontilhado azul-neon por cima das narinas, peixes pretos com uma lista lilás a marcar toda a extremidade do dorso, uns peixes muito pequeninos, verde-prateado, em cardumes numerosos e a movimentarem-se de forma sincronizada, peixe-agulha, um peixe redondo em degradé desde o laranja forte até ao azul petróleo e, claro, corais. Castanhos, liláses, azuis, enfim, toda uma variedade fantástica como se nadássemos dentro de um imenso aquário. Para condizer, almoçámos um extraordinário peixe grelhado que o condutor e o cozinheiro preparam para nós com lume aceso numa arca de areia dentro do barco. No regresso, o condutor desligou o motor do barco e, como o vento estava favorável, abriu a vela do dhow e fizemos a viagem ao sabor do vento.

O Índico é diferente na ondulação, no matizado dos azuis, na temperatura cálida da água e no poder que o sol tem. Eu andei todo o dia com protetor solar E uma t-shirt vestida. NUNCA a tirei e, mesmo assim, apanhei um escaldão nas costas.

A viagem incluía o transporte, o almoço e o equipamento para ver o "aquário". Não sabíamos na altura, mas incluía também as maravilhas do Índico sub-aquático.


Por razões diversas, o verão passado não descansámos. Acho que estamos a fazê-lo agora, neste Paraíso de pós fim do mundo!

jpv

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