Crónicas de Maledicência - Quem Aguenta o Quê?


Crónicas de Maledicência - Quem Aguenta o Quê?

Fernando Ulrich, originário "de uma família ligada ao comércio bancário", ou seja, com a experiência do dinheiro no sangue, disse ontem que "Se os sem-abrigo aguentam por que é que nós não aguentamos?"

Acrescente-se que Fernando Ulrich pertence à Administração do BPI, um desses bancos que têm o rótulo de privados, mas que os portugueses andam a sustentar com o seu sacrifício e à custa de "aguentar" cada vez mais.

O senhor Ulrich, como todos nós, tem direito às suas opiniões e tem direito a expressá-las. Até aí, nada de novo. E tem um estigma a que eu chamo de "Carreirista". Carreirista porque, à semelhança do senhor Medina Carreira, o senhor Fernando Ulrich, por vezes, gosta de dizer umas coisas para agitar as águas e provocar as pessoas. E resulta. Este texto é disso prova. Não sei é se o Senhor Ulrich sabe que pode bem acabar como o Senhor Carreira que, num momento, era o paladino da moral, dos bons costumes e da austeridade e no momento seguinte estava a ser investigado por causa de uma coisa chamada de "Favorecimentos". Veja lá onde põe as palavras hoje, não vão elas escapar-lhe amanhã...

Ora, eu também tenho direito às minhas opiniões e às minhas dúvidas e às perguntas que surgem delas. E algumas das perguntas que me andam aqui a bailar na mente desde que li as declarações do douto administrador do BPI são as seguintes:

1) O senhor estava mesmo a falar a sério ou estava a gozar com o povo português?

2) O senhor sabe que nós sabemos que está tecnicamente falido e só não foi viver debaixo da ponte porque há portugueses que estão a ir por si?

3) Acaso passa-lhe pela cabeça, ou pela cabeça de qualquer responsável pela Nação, que a forma de nivelar os portugueses é convertê-los todos em sem-abrigo?

4) Por fim, mas não menos importante, admitindo que sim, que aguentávamos todos tudo, até mesmo sermos uma Nação de sem-abrigo, gostava de perguntar-lhe diretamente porque é que esse raciocínio serve para os portugueses mas não serve para o seu banco? Não acha, no plano ético e moral, que o BPI devia aguentar-se sem o auxílio dos sem-abrigo?

E pronto, não pergunto mais nada. Vou-me embora para o trabalho sem almoçar. A ver se aguento. E o senhor Ulrich? Já almoçou hoje?
jpv

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