Crónicas de Maledicência - A Bela e o Monstro


Crónicas de Maledicência - A Bela e o Monstro

Há uns meses atrás, um presidente de câmara italiano conseguiu fazer aprovar uma lei, reparem bem, aprovar uma lei que proibe as mulheres feias de andarem em biquíni pelas ruas da sua cidade. O ridículo da situação assenta, não só na discriminação que a lei envolve, mas, sobretudo, nos critérios! Como é que o tipo diferencia as bonitas das feias? Quem são as belas e quem são os monstros? E haverá polícias da fealdade a dizerem:
- Minha senhora, vista-se, por favor.
- Então porquê, senhor guarda, eu estou de biquíni.
- Pois, mas a senhora não pode!
- Não posso? Porque?
- É que a senhora é feia!
Enfim, a lei passou e, ao que parece, quem for feia, seja lá isso o que for, não pode circular pelas ruas em biquíni.

Nem de propósito, esta semana, na Arábia Saudita, três jovens foram detidos, presos e deportados por serem demasiado bonitos! É impossível não imaginar o ato de detenção:
- Alto! Mãos ao ar! O senhor está detido!
- Mas, senhor guarda, o que é que eu fiz?
- O que é que o senhor fez? Então não se está mesmo a ver? O senhor embelezou demasiado!

Enfim. É o mundo que temos. É a cultura que temos. Com preciosidades e maravilhas. Com atropelos e preconceitos. Fiquei a pensar qual será a linha que separa uma pessoa bonita de uma demasiado bonita?

Daqui, deste cantinho luso-moçambicano, não consigo evitar um conselho: e que tal se os jovens sauditas fossem para Itália e as matrafonas italianas, classificadas como feias, fossem para a Arábia saudita?

É normal que, quando o nosso mundo se entrega desta maneira à forma, o conteúdo se degrade. E quando o conteúdo se degrada, a Humanidade segue caminhos perigosos, afasta-se da fraternidade e da justiça, valores maiores da nossa convivência social.

Tenho dito!
jpv

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