Apátrida


Apátrida

A minha pátria
Não é,
Com certeza,
A Língua Portuguesa.

A Língua é a alma
Da minha vida,
O chão fértil
Onde renasço
Todos os dias,
O abraço das tristezas
E das alegrias.

A pátria é uma outra nação,
Um recanto inexplorado
No centro do coração.
Uma ânsia,
Uma busca
E uma incerteza.
Um grito contido,
Agrilhoado no peito.
Um menino perdido,
Sem destino
Nem jeito.
A minha pátria
É uma existência
Recôndita,
Uma caixa negra
De mistérios,
São mapas e planisférios
De dor e melancolia.
E, num dia de sol,
Uma vertigem de alegria
E criatividade.
A minha pátria sou eu.
E eu não sei que seja.

Nasci demasiado cedo
Para ter pátria.
Demasiado tarde 
Para não tê-la.
Com demasiado vigor
Para esta terra.
Com demasiada suspeita
Para aquela.

Eu sou o senhor
De mim,
Desta terra sem fim
Que meu olhar percorre.
Eu nasço todos os dias,
E o que sou,
Todos os dias morre.

Caminho
Sem pressa
Nem promessa,
Sem longe
Nem horizonte.
Não sei para onde vou
Nem donde venho.
Já secou a água
Dessa distante e difusa fonte.

Eu sou o princípio e o fim.
A pátria e o apátrida
De mim.
jpv

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