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José António fez questão de a acompanhar. Não demonstrou qualquer desconfiança. Pelo contrário, foi pressuroso na forma como se ofereceu, para que estivesse ela à vontade para tomar uma bebida. Ele iria levá-la e buscá-la quando e onde entendesse. Um toque no telemóvel seria o sinal.
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- Não é preciso. Nem dormes descansado. A Teresa traz-me a casa. Posso vir tarde...
- Não faz mal. Qualquer hora é uma boa hora para ver-te.
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Ela está agora saindo do carro no local combinado e José António verifica aliviado que algumas amigas a esperam. Esticam-se e trocam um beijo rápido nos lábios. Ela pensa que pode estragar o baton, ele pensa que outros lábios a beijarão antes que volte a fazê-lo. Acena às amigas de Maria de Fátima e elas retribuem sorrindo e gritando alto "não te preocupes, nós tomamos conta dela!" como se houvesse alguém capaz de tal cometimento.
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- Calculas a que horas te poderei vir buscar?
- Ó Zé Tó, tu e as horas. Hoje é girls night, sem horas. Sei lá, antes das duas não. Eu bem te disse que isto era desnecessário.
- Não faz mal. Desculpa-me a pergunta. Dá-me um toque quando quiseres e eu venho buscar-te.
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José António deu o jantar aos miúdos, brincou com eles, viram televisão juntos, deu-lhes um leite quente e despediu-se deles com um beijo na testa quando os foi deitar. Passaram os programas de entertenimento, depois a longa metragem e adormeceu pouco depois de Antonio Banderas e Angelina Jolie terem feito amor tropical em pecado. Quando despertou eram já três e quinze. Precipitou-se para o telemóvel. Nem chamadas por atender, nem sms. Calçou-se, enfiou um casaco por cima do fato de treino e meteu-se no carro. Os despojos da noite e seus excessos marcavam presença nas ruas. Garrafas na beira do passeio. Um grupo de jovens falando alto e um deles abrindo os braços e correndo errante de olhos postos no céu negro enquanto gritava "Ó lua que vais tão alta...". A cidade não estava desperta nem adormecida, estava regorgitando vida em copos semi-vazios e beatas pisadas com a ponta do sapato. Chegado ao local, José António não viu Maria de Fátima. Esperou um pouco e descobriu uma das amigas num grupo de gente conversando à porta de um pub. Conduziu devagar até lá. Parou. Baixou o vidro eléctrico e perguntou:
- Olá desde há bocado, viste a...
- Sim, foi com a Teresa, acho que a foi levar a tua casa. 'Tás giro, tu...
- Obrigado! Pela informação, quero dizer...
Agora estava preocupado. Seguiu para casa. Ligou-lhe.
-"O número para o qual ligou encontra-se desligado".
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São quase cinco horas. José António está acordado na cama, enrolado nos lençóis e nos cobertores e ouve o som metálico da chave a encontrar a posição certa na fechadura. Os passos dela entram na casa e guiam-na para a cozinha primeiro, depois para o quarto onde se precipita para a casa-de-banho privada e quando se enfia na cama ouve a voz do marido:
- Não ligaste.
- Não foi preciso.
- A Teresa trouxe-te?
- Não. trouxe-me o Eduardo.
- E quem é o Eduardo?
- Um amigo. Mais um conhecido, de facto. Estive com elas primeiro e depois passei o resto da noite com ele.
- A fazer o quê?
- Com elas, a dançar.
- Não, com ele.
- Com ele, sexo!