Creta 2010 - Diário de Bordo - 10

1/8/2010 - 22:53h. - Georgioupoli-Preparo-me para dormir. E escrevo na cama. Isto de escrever está a tornar-se um vício. Hoje não estava para fazê-lo, mas ao fim da tarde fomos a pé até à capelinha branca no meio do mar e quis registar isso. A capela é dedicada São Nicolau (Agios Nicolaus) que é o padroeiro da ilha. O caminho é curto, cerca de trezentos metros, mas relativamente difícil porque é feito sobre rochas que não estão niveladas como se fosse preciso sofrer para lá chegar. Às vezes falam-me das águas marinhas das Caraíbas e do pacífico como sendo inigualáveis em cristalino e transparência. Afinal na nossa Europa também há disso. Há água do mar é tão cristalina que se vê o fundo com nitidez e os peixes e os caranguejos e os ouriços-do-mar.
-Dentro da capelinha há umas imagens do santo que toda agente beija para depois se benzer. O benzer dos ortodoxos é um pouco diferente. Fazem um gesto cruzado, na diagonal, à frente do peito e ao terminar fazem um movimento como se atirassem alguma coisa para trás das costas.
-
O que achei interessante foi o fervor dos jovens. Aqui em Creta, os adolescentes e as crianças assumem os rituais com devoção e fervor. Não têm nenhuma espécie de vergonha dos seus rituais, bem pelo contrário. Incorporam-nos no seu quotidiano. Por exemplo, não há qualquer espécie de relação entre ser-se jovem e não ligar às coisas da igreja "porque isso é para velhos". Bem pelo contrário. É muito frequente ver-se uma moça jovem, muito arranjada com roupa próprias da sua idade, ou um rapaz com um ar mais "metálico" ou "dread", ou um grupo de jovens a passar na rua todos na galhofa e, ao passarem por uma igreja benzem-se de forma séria e depois continuam como se nada fosse, alguns entram beijam o santo e seguem à vidinha. Isto não é uma coisa pontual. Presencio isto a toda hora aqui na ilha e já era assim em Atenas. Eles são desinibidos e ostensivos na forma como assumem os seus rituais.
-
Quero registar outro aspecto. A genuína e exuberante simpatia dos cretenses. Não é uma coisa forçada, para turista ver. Eles são mesmo simpáticos e calorosos e desinibidamente tácteis. Já hoje, por duas vezes, pessoas que eu não conhecia de lado nenhum me deram uma palmada nas costas como forma de saudação e riram-se comigo. Eu sou assim e integrar-me-ia bem com esta gente, mas sei bem, por exemplo, o quanto me estranham em Portugal. Nós somos boa gente mas mais prudentes a ver no que a coisa dá, a dar tempo de conhecer as pessoas. Estes são mais espontâneos. Eu gosto das pessoas de riso fácil e franco. Os cretenses são assim.

Georgioupoli - Capela de São Nicolau
-
Georgioupoli - Capela de São Nicolau
-
Georgioupoli vista da Capela de São Nicolau

NetWorkedBlogs