"Com Amor," - Documento 20


Verónica,
Eu acho que, por vezes, as pessoas em geral e as mulheres em particular, têm medo de usar as palavras. E também acho que, por vezes, têm medo de as ver usadas. A linearidade com que os homens encaram a vida, dá-lhes a vantagem de saberem com mais facilidade o que querem dela e, como tal, de se posicionarem e usarem as palavras com menos cautelas. As mulheres, por sua vez, não sendo mais complicadas, discordo dessa teoria, são mais profundas, mais complexas e isso leva-as a medir com prudência todos os gestos e todas as palavras que são gestos também. Repara, tu escreveste-me e leste-me e nunca tiveste problemas com isso, mas assim que o assunto é o amor e sabes que implica outras pessoas porque tens filhos e sabes que sou casado e tenho filhos, retraíste-te imediatamente e enclausuraste o amor dentro de um jogo de prudências, medições e mediações que o matam completamente. Enfim, quase completamente. Vamos às palavras-chave do teu mail. "Implicações". São as que são. Tenho plena consciência delas à luz do que te disse e tenho também plena consciência de que só a mim cabe geri-las. Esse não é um problema teu, nem uma responsabilidade tua. As tuas implicações, isto é, as implicações na tua vida, cabe a ti gerir e não interfiro. "Lançar de escada". Que expressão tão infeliz, Verónica, que expressão tão infeliz. Perante uma afirmação tão profunda e tão séria, perante o colocar das pedras do amor no tabuleiro da vida, tu falas-me em lançar de escada. Expressão marialva e prosaica. Não sei se reparaste, acredito que sim, eu não falei de sexo, nem nada que se pareça. Eu disse que tu precisavas de amar e eu estava no teu caminho. Quantas formas tem o amor? Até o escrito é válido, Verónica. Afinal, não precisei mais do que escrever para ter para ti um significado maior do que o próprio Deus. "Perdida". Admito que sim, mas isso não invalida estares no meu caminho e esse ser um caminho de amor. O processo é simples. Precisas reencontrar-te, pacificar-te, e poderás, depois, perceber o que fazer com este caminho, mas não há dúvida de que estás nele tal como eu. Caso contrário o que significaria esta troca de mails? Não interessa que nos tenhamos zangado no início, Verónica, se vires bem, o que temos feito desde que nos escrevemos tem um nome: Chama-se NAMORAR!
Rui

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