Os Três Pastorinhos

Passam-se dias a fio que não vejo um pastor. Nem falar deles oiço. E há dias em que se me cruzam na mente os pastores todos. Hoje, mal acordei, esbarrei na ideia dos três pastorinhos!

Primeiro, o grande pastor da nação, que nos tem a todos grande estima não obstante sermos ovelhas tresmalhadas e pouco cuidadosas. É enternecedor ver o ar pedagógico e condescendente com que o senhor Presidente da República nos trata, assim ao jeito de Andais perdidos, mas eu vou mostrar-vos o caminho do bem. E fala e dá conselhos e lá diz o que é melhor para a Nação e os nacionalizados nela como que atirando dogmas ao vento.

Hoje veio falar de um segundo pastor e lembrou, pelo discurso, um terceiro.

Falou do pastor que vai ou ia para a serra apascentar seu rebanho e não tinha feriados, nem fins-de-semana nem pontes. E será que o senhor Presidente da República advogava essa realidade para Portugal? Pergunto, e peço desculpa pela ousadia da pergunta, porque, da última vez que vivemos essa realidade éramos um dos países mais pobres e menos desenvolvidos do Universo... E tínhamos um pastor. O terceiro pastorinho desta história. Nessa altura, também ele era um iluminado que guiava as reses perdidas nos terrenos escuros da ignorância pelos caminhos da castidade, da fome e da alegre subserviência. Acontece que até as ovelhas pensam e anseiam liberdade. E o grande pastor da nação foi à sua vida após quase meio século de manhãs e tardes e noites de bornal cheio de ilusões e enganos a apascentar um rebanho sem férias, nem fins-de-semana, nem feriados, nem pontes.

Ora, cada um dos três pastorinhos teve fortuna diferente. O ditador foi deposto. A liberdade, esse incómodo da mente, venceu. O pastor das serras continuou a apascentar, atividade respeitosa, de resto, mas, ao que parece, nunca foi pedreiro, nem canalizador, nem engenheiro, nem mulher a dias, nem médico, nem professor... filósofo, talvez, de filosofias perdidas. Mas de pouco lhe valeu. Quanto ao terceiro pastorinho, haja sempre esperança, parece que está bem. Tem honroso lugar na nação e honrosa pensão de aposentação e, ao que consta, está bem, faz discursos e invoca as virtudes de um pastor, lembrando a atitude do pastor, mas não as aplica a si. Nem as de um. Nem as de outro...

Confuso? Talvez não... Ora leia lá outra vez!

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