Meu Amor Querido, Meu Doce Eduardo, Meu Porto Seguro,
Achei quase um milagre ter-te encontrado e achei, isso
sim, um perfeito milagre que nos entendêssemos tão bem. Uma tão preciosa
harmonia parecia-me frágil, no início, mas depois fortaleceu-se e à medida que
o tempo foi passando, eu fui acreditando cada vez mais nesse nosso cantinho de
estar bem a que carinhosamente chamas de arrolhar de pombos.
Por vezes temia pela durabilidade deste nosso entendimento
e tentava imaginar por onde poderia nascer um conflito. Fazia isto para nos
defender, para poder antecipá-lo e evitá-lo.
Tenho conseguido. Temos conseguido. Mas fui surpreendida.
Fomos surpreendidos.
Estes dias em que estivemos um pouco mais ausentes um do
outro, criaram um certo distanciamento que me permitiu ver com mais clareza. E
fiquei tranquila. Já reparaste que as razões do nosso desentendimento não
nascem em nós, não provêm dos nossos actos directos? O motivo mais recente tem
a ver com a forma como lidaste com o meu mais velho e esse problema, sejamos
honestos, está relacionado com a forma como a tua filha encarou o nosso
relacionamento desde o início. Com certo cepticismo e até alguma desaprovação.
Acho que precisamos de dar-lhes espaço e tempo e acho que precisamos de ser
serenos e crescidos e encarar com naturalidade as atitudes dos nossos filhos.
Resolvi escrever-te porque te quero muito e não gostaria
que um problema paralelo tivesse o poder de inquinar a nossa relação.
Tua.
Sempre tua.
Verónica
Verónica