Curtas do Metro - Risco e Imprudência


Risco e Imprudência
A vida é feita de riscos. O risco faz parte de estar-se vivo. viver sem riscos não é viver, é sobreviver, passar o tempo, qualquer coisa, mas não é viver. Ainda assim, mesmo eu, que sou um adepto do risco, acho que é preciso calculá-lo, medi-lo e correr o risco com a margem de segurança que permita acreditar na superação, no sucesso. Ou seja, correr riscos é uma coisa, e é saudável, imprudência é outra.

Hoje assisti a uma imprudência arriscada. Quando mudei de linha na Baixa Chiado e apanhei o Metro para o Cais do Sodré, já lá estava uma composição parada. Tendo em conta a distância a que ela estava de mim e o facto de já toda a gente ter entrado, percebi que já não a apanhava. Sobretudo porque, uma vez toda a gente lá dentro, é muito curto o período de tempo até que toque o alarme sonoro de fechamento de portas e as ditas se cerrem. Decidi continuar a caminhar calmamente e esperar pelo próximo.

O alarme soou, passou por mim, a correr desenfreadamente, um jovem com menos de vinte anos, as portas começaram a fechar, quando ele chegou junto delas, as duas portas já tinham percorrido mais de metade do percurso até se encontrarem, ele já não cabia, até porque levava uma mochila, colocou uma mão em cada porta e começou a fazer força para que recuassem, as portas estavam a ganhar e cada vez se fechavam mais, ele não desistiu, quando as portas estavam quase fechadas, as costas das mãos dele encostaram-se uma contra a outra, ele continuou a fazer força, as portas cederam um pouco até que ele conseguiu meter a cabeça dentro do comboio, continuou a fazer força até que o corpo passou completamente lá para dentro, as portas fecharam-se, a composição partiu.

Fiquei aterrado porque vi o corpo dele meio dentro, meio fora do comboio, entre a plataforma e o interior da máquina.

Importa dar aqui seis simples informações:
1) Na plataforma há uma linha amarela para além da qual não se deve passar exceto se as portas estiverem abertas.
2) Há um alarme sonoro que indica o fechamento das portas.
3) Há um aviso sonoro que solicita às pessoas para não forçarem as portas.
4) Há um autocolante EM CADA PORTA que avisa para não se forçarem as mesmas após o alarme de fecho.
5) Há um autocolante EM CADA PORTA que avisa para os passageiros não colocarem o corpo entre as portas durante o fechamento.
6) Há um aviso sonoro que alerta e previne para o espaço entre a plataforma e o comboio.

O rapaz lá foi à vida dele. Deve ter ganho quatro minutos (!), mas podia ter perdido tudo naqueles instantes. Correu um risco. Mas, para quê? Por quê? Quatro minutos?
Importa referir que, mesmo não se registando acidentes muito graves, todos os anos há centenas de acidentes com o Metro, quase todos causados por imprudência na utilização do recurso. Há sistemas de segurança, mas com este tipo de atitude não há sistema de segurança que funcione.

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