Curtas Do Metro - Violência

Violência


Foi um dos episódios mais violentos a que assisti no Metro e envolve uma só pessoa. Final da tarde. Dia de chuva. Cais do Sodré. Descemos as escadas de cimento que dão acesso à plataforma. À minha frente segue um homem com mais de sessenta anos, fato e gravata, pasta numa mão, chapéu de chuva, dos compridos, na outra. Óculos na cara.

Ao descer, o chapéu de chuva bate num degrau, ressalta para as pernas dele, ele tropeça. Tem à sua frente seis degraus. O primeiro impacto com o chão é feito com os joelhos, três degraus mais abaixo. Não larga a pasta nem o chapéu. O segundo impacto é feito já na plataforma onde bate com estrondo e completamente desamparado com a cara. Neste momento arrepiei-me porque todo o peso do seu corpo ficou, por instantes, suportado pelo rosto! Os óculos resvalam para a testa. Uma daquelas pecinhas que apoiam no nariz esbarra numa ruga da testa e corta. Quando, após uns momentos, o senhor se levanta com a ajuda de alguns de nós, está tonto, não sabe onde está nem como aconteceu aquela queda. Tem os óculos cravados na testa. Tira-os por instinto e o sangue, que já jorrava por cima de uma vista, invade-lhe a cara. Chega apoio qualificado. Devo assinalar que os seguranças foram rapidíssimos a vir ajudar. Chamam uma ambulância e o senhor começa a voltar a si.

Um acidente violento e desnecessário a marcar um fim de tarde chuvoso. O dia seguinte amanheceu alegre e solarengo. Espero que para ele também. Espero que o acidente seja só a memória de um susto.

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