Roubo de Mim



Roubo de Mim


Primeiro,
Insinua-se como uma promessa,
Desenha a tentação.
E lentamente começa
A germinar a ideia, a corrupção.
Vinha, efémero e fugaz,
Adocicar-me a vida,
Tornar-me mais capaz
De encontrar a terra prometida.
E confiei nele
Porque era eu.
O seu sentir
Era meu.
E assaltou-me a consciência,
Tomou-me a convicção.
Roubou-me a moral e os valores
Só porque lhe dei a mão.


Mais tarde,
Queimado o tempo
No tempo que arde,
Vivida a vida
Que a vida consome,
Olhei para dentro de mim
E vi outro homem.


E esse homem não era eu.
Era um homem que tinha tudo de meu,
Mais a abjeta verdade
De ter entrado
Pela porta da cumplicidade
E corrompido o jovem menino,
O homem erguido.


É o pior dos roubos,
O mais vil dos assaltos.
É o mais eficaz
E o mais traiçoeiro
Dos ladrões.
Espera, paciente, o momento
De roubar-te as convicções,
E leva-te a vida,
O Ser e a Fé.
Um homem olha à volta
E, súbito,
Já não sabe quem é.


É trágico
E instila-me na alma
O breu.
Terem-me roubado
A essência
E o ladrão ter sido eu.


jpv

NetWorkedBlogs