Crónicas de África - Preçário


Preçário

Maputo, 27 de setembro de 2012

Maputo é uma cidade cara. Não é, pelo que me contam, como Luanda, mas, mesmo assim, é uma cidade cara.

Quando um europeu chega à cidade, apercebe-se de que há coisas muito acessíveis, mas aprende pela carteira que a generalidade dos produtos é muito cara quando comparada com os preços praticados na Europa e, em particular, em Portugal.

Numa primeira impressão, em traço largo e impreciso, parece-me que os automóveis usados, na sua maioria importados do Japão, a mão-de-obra, nomeadamente, as empregadas domésticas, e o peixe são produtos e serviços muito acessíveis. Um jipe Toyota RAV4 com dez anos custa entre 5000 e 6000 euros, 1kg de camarão grande custa entre 3 e 4,5 euros e com cerca de 90 euros paga-se a mão-de-obra de uma empregada doméstica para um mês. Outra coisa substancialmente mais barata do que em Portugal são as chamadas telefónicas internas, ou seja, nacionais. Um minuto custa cerca de sete cêntimos e há imensos pacotes de 100, 200 e 500 minutos grátis. A coisa funciona assim: na compra de 500 meticais (15 euros) de chamadas, dão-te mais 500 minutos nessa rede.

E as rosas acabam aí... tudo o resto, que é a maioria das coisas, é a preços exorbitantes. Não quero fazer uma lista de compras. Seria despropositado e maçador. Farei, somente, o registo dos preços que me impressionaram mais. Vamos, então, ao preçário. Podem fazer-se compras em diversos locais. Nos hipermercados parecidos com os europeus, estes são fora da cidade, têm uma oferta muito diversificada e são caríssimos porque os produtos são importados, na sua maioria, da África do Sul. Nos supermercados dentro da cidade. Estes são mais pequenos e são uma reprodução exata dos nossos supermercados dos anos 70 e 80, com as mercadorias pelo chão, os preços marcados à mão e um balcão a servir de charcutaria. São bem mais baratos e têm muitos produtos portugueses. Nos mercados e nas vendas de rua. Nestes locais é possível comprar tudo, frutas, legumes, batatas, citrinos, água, peixe, etc... São os locais de venda mais baratos, mas é indispensável ter uma balança própria e andar com ela na mala. Há umas de pendurar os sacos que são pequenas e os vendedores não se importam que usemos. Nestes locais, o mais aconselhável é levar notas separadas nos bolsos e só mostrar uma de  cada vez. Os eletrodomésticos são caríssimos. Um microondas de linha branca que se compra em Portugal com 30 ou 40 euros, aqui custa entre 100 e 150€. Todos os metais e alumínios como, por exemplo, as panelas e os talheres são artigos de luxo. Um jogo de 7 panelas, qualidade mediana, custa entre 200 e 300 euros. Um jogo de 6 garfos, 6 facas e 6 colheres de qualidade média/baixa custa entre 24 e 40 euros! Uma forma para bolos, pequena, para fazer um bolo para duas pessoas, custa 12€! A carne, meu Deus, a carne é caríssima! O fiambre anda entre os 15 e os 30 euros/kg. Um frango com 700 gramas custa entre 6 e 9 euros. Há muito pouca carne de porco e a generalidade da carne de vaca ou borrego também é muito cara. Todos os plásticos são ao preço do ouro. Um simples balde do lixo pode custar 9€ ou mais. Um cesto standard para a roupa suja, em plástico, custa qualquer coisa como 15€. A água e a luz são caríssimas, em contrapartida, o gasóleo é a 1€, ou seja, menos 0,50€ do que em Portugal. O fornecimento de água é eficaz, mas o sistema é curioso. A água pública não tem pressão para servir as casas. Então todas as casas têm um tanque ao nível do solo que é abastecido automaticamente de madrugada. Depois as pessoas têm uma bomba de pressão que manda a água para depósitos no telhado e nos terraços das casa, por fim, segue desses depósitos para as torneiras com a força da... gravidade! Mai nada! O certo é que funciona...


O que me parece mais avisado é fazer um mix. Temos de recorrer aos hipermercados de importação para adquirir certos bens, mas é interessante e mais acessível irmo-nos misturando e consumindo nos supermercados da cidade e nas vendas de rua. Sempre fui adepto de aderir aos costumes das terras que visitava. Como, desta vez, não é uma visita, mas uma estadia, acho que não tenho outra solução senão entranhar a vida daqui, mas isso é o que dá mais prazer!


Se sobre esta matéria, sempre tão apetecível e interessante que é o custo de vida em Maputo, 
tiverem dúvidas, coloquem-nas nos comentários que eu responderei com prazer... se souber...
jpv

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