Crónicas de Maledicência - O Salário Mínimo


Crónicas de Maledicência - O Salário Mínimo

António Borges, consultor do Governo, disse e defendeu que "o ideal era que os salários descessem".

É claro que não se referia ao seu, que é de milhares, é claro que não se referia aos dos gestores das empresas, dos Bancos, das PPP, dos institutos, dos tipos que, como ele, não têm quaisquer problemas financeiros nem estão a pagar a crise que não criaram. Borges referia-se ao salário mínimo que é um dos mais baixos da Europa.

Ora, eu nem vou pela argumentação fácil, ainda que verdadeira e pungente, de dizer que as pessoas já estão em dificuldades, algumas em rutura, outras em miséria, milhares a fugir do país, sim, porque o que está a acontecer não é imigração, nos dias que correm, os portugueses fogem de Portugal e não o fazem porque queiram, fazem-no porque são perseguidos dentro do seu próprio país. Eu nem vou dizer que é uma imoralidade e de uma total falta de ética baixar os vencimentos dos que ganham menos. Eu nem vou perder tempo a demonstrar que há outros caminhos para combater o desemprego, isso é tudo fácil.

O que venho trazer-vos, a propósito das declarações do senhor conselheiro, é um raciocínio sobre os efeitos diretos de uma tal medida. E o raciocínio é este. Nós, humanos, somos defensivos por natureza, autoprotegemo-nos e somos umbilicais porque é esse o segredo de termos sobrevivido num Universo agressivo e com diversas outras espécies concorrentes. Nessa medida, só uma pessoa muito ignorante, muito ingénua ou muito mal intencionada é que se atreve a acreditar que baixar o salário mínimo aumentará o emprego. Efetivamente, os empresários, quando puderem pagar menos pelo salário mínimo, tendo em conta a crise em que o país vive, não vão contratar mais pessoas, vão é reduzir os vencimentos dos empregados que já tenham e, assim, a medida transforma-se em mais um mecanismo de defesa e poupança daqueles que já têm muito e transforma-se em mais uma atitude de violência e agressividade para com um povo que está já desgastado não obstante a forma cívica e estóica como tem aceitado a austeridade. Isto é básico. E Borges só não vê isto, ou não quer ver, porque se está a defender. Afinal de contas, todos sabemos de que lado da barricada é que ele está!
jpv

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