Crónicas de Maledicência - A Ponta do Iceberg


Crónicas de Maledicência - A Ponta do Iceberg

Depois do chumbo das quatro alíneas do Orçamento Geral do Estado por parte do Tribunal Constitucional, o Governo tinha duas hipóteses. Ou se demitia, ou começava a trabalhar em medidas para recuperar a verba perdida partindo do princípio, claro está, de que não alteraria a linha política seguida até agora.

O tal chumbo preocupou-me. Não me manifestei na altura, mas acreditei sempre que a atitude do TC pudesse funcionar como justificação para espoletar um conjunto de medidas abslolutamente violentas. Tão violentas que não tinha havido coragem para se pensar nelas.

O que li esta manhã no portal "Notícias ao Minuto" parece-me ser a ponta do iceberg dessa violência. Efetivamente, a notícia, que aparentemente é sobre os professores com mais tempo de carreira, logo, os mais velhos, retirando-lhes a redução da compenete letiva por compensação da idade e do desgate, a ser levada a cabo, terá desastrosas consequências nos mais novos. E a razão é simples. Muitos ficarão sem trabalho. A medida é aplicada no topo, mas as consequências recairão em professores a meio de carreira ou com poucos anos nos quadros. O mais curioso é que, desta forma, o executivo de Pedro Passos Coelho, com Nuno Crato à cabeça da Educação, nem precisa de falar em mobilidade especial, nem precisa de falar em despedimentos. Disso falará mais tarde, quando já for inexorável e não houver qualquer hipótese de recuar. São momentos muito difíceis os que vivemos e, se não temos cuidado, as medidas que tomarmos podem liquidar os serviços públicos e, liquidando-os, assassinam o tecido consumidor. O momento seguinte é a agonia do comércio e da indústria. Numa economia saudável, os consumidores têm de poder consumir.

Este é um iceberg com muitas pontas, mas, a ser verdade, poucos dias depois da decisão do TC, esta medida é o prenúncio de um despedimento massivo de docentes. A questão, agora, são duas! Uma, é saber se os docentes a dispensar são necessários ou não, ou seja, se fazem falta à sustentabilidade do sistema educativo ou se é um corte cego e puramente financeiro. A outra, é saber se o seu despedimento constitui efetivamente uma poupança ou se representa, a curto prazo, uma tremenda despesa... sim... não estou maluquinho, nem me falta a coerência, ora pensem lá bem...

jpv

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