Crónicas de África - Uma Semana em Maputo
Maputo, 19 de maio de 2013
Tenho-o dito e repito, sem preconceitos, a experiência de viver em Maputo tem tido as suas dificuldades, mas é absolutamente fantástica. Uma das muitas coisas a que temos de habituar-nos é o ritmo. Os dias acordam muito cedo, a partir das 4, 4:30 e também se escondem cedo, por volta das 20 é hora de começar a adormecer e às 22 é muito tarde. Não tem tanto a ver com as horas, mais com o ritmo dos dias.
Por outro lado, também a sequência de acontecimentos, a forma como a vida se encadeia, é muito diferente daquilo a que estamos habituados na Europa e, em particular, em Portugal. Não é pior, nem melhor. É, simplesmente, diferente. Vejamos como pode ser uma semana em Maputo. Este exemplo é diretamente retirado do filme da minha vida, logo, foi real e efetivamente vivido.
Segunda Feira
- Aulas.
- O carro começa a ter dificuldade em pegar.
- Falta a água à noite. Nada a fazer.
Terça Feira
- O diagnóstico da falta de água revela inequivocamente que a bomba que leva a água do depósito no r/c, que a recebe da companhia, e a bombeia para o depósito no terraço, no 4º andar, donde descerá para a casa, no 1º andar, queimou. Literalmente. Contacta-se o senhorio que faz o favor de contactar o eletricista/canalizador que, às 7:30, informa que chegará às 9:30.
- Almoço no Piri-piri. Frango de churrasco, o que havia de ser?
- Às 14:30 chega o canalizador/eletricista, um tudo-nada atrasado. Informa que a reparação demora 30 minutos.- Levar o eletricista/canalizador a casa para trazer as chaves.
- Comprar uma bomba nova.
- Petisco ajantarado com o Nunes e uns amigos. Chouriço assado com vinho de Reguengos. Faz-se diagnóstico do carro. Precisa nova bateria.
- Às 21:30 o arranjo de 30 minutos da bomba que leva a água do r/c para o terraço a fim de baixar ao 1º andar é remetido para o dia seguinte.
Quarta Feira
- Em casa, arranjar o arranjo da bateria refazendo as ligações que estavam mal amanhadas.
- Aulas.
- À tarde falta a luz.
- O fornecimento de luz é retomado ao princípio da noite.
- Prossegue o arranjo da bomba de água. Banho com um balde e um púcaro.
- O Benfica perde com o Chelsea.
Quinta Feira
- 48 horas depois de ter sido diagnosticado um arranjo de 30 minutos recupera-se o fornecimento de água.
- A buzina do carro começa a apitar sozinha. Ao cabo de três vezes, dou-lhe um valente murro. Nunca mais se manifestou por vontade própria.
- Aulas.
- Preparação do Sarau das Línguas: audições.
- Falta o sinal de televisão. Depois de verificados os cabos, contacta-se a empresa que fornece o serviço de televisão. Vamos já!
Sexta Feira
- Pagar ao eletricista/canalizador.
- Aulas.
- Jantar da equipa que coordena os trabalhos de preparação do Sarau das Línguas.
- 24 horas depois de ter sido suspenso sem aviso, retoma-se o fornecimento de serviço de televisão.
Sábado
- Compras.
- Corrigir testes.
- Skype com a família.
- Dormir e sonhar com um domingo tranquilo que começará, sem dúvida, com um banho retemperador.
Domingo
- Falta a água. Pânico geral. Telefonemas diversos para o senhorio e eletricista/canalizador. Uma hora depois, assistido por telefone, descubro que ele tinha enchido o depósito do terraço, tinha ligado a bomba nova, mas... tinha-se esquecido da torneira de segurança fechada. Abre-se a torneira de segurança. O líquido precioso jorra avonde. Banhos. Finalmente.
- Pequeno almoço no Continental.
- Passeio de carro e a pé pela marginal. Paisagem belíssima.
- Testes.
- Intervalo dos testes para fazer esta publicação no MPMI.
Se eu podia viver sem ser em Maputo?
Poder, podia, mas não era a mesma coisa!
Poder, podia, mas não era a mesma coisa!
E, por fim, algumas imagens que acompanharam a loucura de uma semana normal na Capital moçambicana:
jpv