Curtas do Metro - Lapsus Linguae

Lapsus Linguae
8:4o da manhã. Esperamos o Metro para o Cais do Sodré. Chega. Ao entrarmos, o baralho de gente que esperava entra e distribui-se. Como estamos todos à procura de um espaço onde possamos seguir de pé, nem olhamos uns para os outros. Só quando estamos lá dentro é que olhamos uns para os outros. Desta vez calhou-me um 13 no totobola, um poker de mão. Entro na carruagem, dirijo-me à porta oposta que está fechada, sou apertado pela multidão, levanto a cabeça e vejo quem está em volta. À minha direita uma moça muito interessante, formas muito bem definidas, pernas altas e redondas e peito muito generoso. Tem meias de vidro, calções brancos curtos, um casaco de cabedal lilás e o cabelo castanho encaracolado e com madeixas loiras. Pintou as unhas de azul. À minha esquerda uma moça um pouco mais magra mas cujas formas são igualmente perfeitas. Calças de sarja pretas, blusa com decote em vê às listas horizontais verdes clarinhas e brancas, sapatos lisos, cabelo preto liso e compriso, óculos rectangulares muito sensuais e um olhar castanho e doce. À minha frente a mais velha e generosa das três. Túnica branca colada aos seios redondos e generosos, calças de malha pretas coladas ao corpo, cabelo escuro e olhos muito bem definidos por um lápis firme. Era a mais velha, mas não era a menos interessante. E ali fico eu, entalado entre a visão do paraíso e a tentação do inferno. Tento desviar o olhar, mas não é fácil. Para onde quer que olhe há uma mulher atraente. A curta viagem chega ao fim. As portas abrem-se. Todos saímos. Ao sairmos, um homem pequenino, anafadinho, enfiado numas calças de ganga, numa camisa às riscas azuis e brancas fininhas e num casaco de cabedal coçado pelo tempo e pelo uso, vira-se para mim e diz:

- Ó chefe, hã, você ia bem tóreado!
- Toureado? Quer dizer torneado, rodeado...
- Ó isso!

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